O Rio Grande do Norte registrou aumento no número de casos de covid-19 na primeira quinzena de outubro em comparação ao igual período de setembro último. Foram 1.124 casos da doença nos primeiros 15 dias deste mês, ante 1.072 confirmações contabilizadas de 1º a 15 de setembro, um crescimento de 4,85%. Os óbitos reduziram no mesmo período: foram 28 em setembro e 19 em outubro. Os dados são da ferramenta “Coronavírus RN”, do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN).

Especialistas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE afirmam que é preciso continuar investindo em vacinação e avaliam que o momento é considerado confortável, apesar dos dados recentes – no começo da semana, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) apontou piora no cenário epidemiológico de 31 municípios potiguares, que tiveram queda nos índices de indicador composto. O estudo reúne fatores como ocupação de leitos, casos ativos da doença e óbitos.

Dos 31 municípios com piora, 22 saíram do score 1 para 2; outros oito passaram da pontuação 2 para 3; e um saiu do score 3 para 4. O estudo confere ao municípios pontuações que variam de 1 a 5 (da mais confortável à mais crítica, respectivamente). O Estado não tem municípios com pontuação 5, de acordo com o indicador.

A média móvel de pedidos por leitos também aumentou. Em 13 de setembro, a procura era de 16 pedidos diários. Na terça-feira (19), a média chegou a 26, conforme boletins da Sesap. Ainda na terça, o RN registrou 107 casos da doença. É a primeira vez em pelo menos dois meses que o Estado supera a marca das 100 confirmações no intervalo de um dia.

A subcoordenadora de Vigilância em Saúde da pasta, Diana Rêgo, afirmou que o cenário exige atenção e disse que a Secretaria acompanha de perto cada mudança, por menor que seja. “Avaliamos o cenário epidemiológico como um período de alerta. Enquanto vigilância, estamos atentos às mínimas variações. Consideramos ainda um número confortável, entretanto, estamos atentos aos aumentos e também fazendo um apelo para que toda a população busque a imunização”, declarou.

A gestora explicou que o crescimento no número de novos registros pode estar atrelado à maior circulação de pessoas nas ruas e à realização de grandes eventos. Segundo ela, no entanto, eventuais medidas mais rígidas relacionadas a esse aspecto só serão tomadas se houver agravamento do cenário epidemiológico.

“Provavelmente, o que está causando esse aumento [de casos] são os grandes eventos e a maior circulação de pessoas, assim como a diminuição do distanciamento social. Caso o cenário epidemiológico se agrave, poderemos rever os decretos e portarias que estão em vigor”, pontua Diana Rêgo.

Aumento esperado
O aumento de casos confirmados de covid-19 registrado recentemente já era esperado, em razão da retomada das atividades socieconômicas e da chegada da variante Delta ao Estado no dia 4 de agosto deste ano. A análise é da médica infectologista Marise Reis, do Comitê Científico do Estado para enfrentamento à pandemia do coronavírus.

Segundo ela, o Rio Grande do Norte está no momento mais confortável desde o início da pandemia, o que não elimina a necessidade de se manter alerta e investir forte na vacinação. “É a imunização quem vai nos proteger do vírus, além do uso de máscara e higienização das mãos. A crise sanitária não está controlada”, atesta Reis, que é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

“Esse aumento era esperado, por conta do retorno das atividades normais e da chegada da variante Delta. E eu acredito que os casos devem continuar subindo. Mas não é motivo para a gente parar de viver. Nós precisávamos voltar à vida normal, trabalhar, estudar. Isso é necessário. Mas temos que fazer tudo com responsabilidade”, defende a infectologista.

A exemplo de Marise Reis, o imunologista Leonardo Lima acredita que os casos podem continuar subindo e faz um alerta a quem ainda não completou o esquema vacinal.

“Se esse pequeno aumento seguir acontecendo, será natural. Num universo de cerca de 3 milhões de pessoas no Estado, há 190 mil que já deveriam ter completado o esquema vacinal e não o fizeram. Elas estão desprotegidas e podem desenvolver casos da doença, inclusive, graves”.

A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN) atribui os aumentos à flexibilização das atividades sociais e afirma que não dá para concluir que a presença da variante Delta seja a responsável pelo crescimento na disseminação da doença.

“A Delta é a principal variante em circulação no Estado. Atualmente, temos 173 casos confirmados. Mas o que eu gostaria de frisar é que nós esperávamos que a chegada dela ao RN, em agosto, tivesse efeitos maiores, com o aumento de casos já naquele momento. Mas esse crescimento, que eu considero discreto, começou com a maior circulação de pessoas, permitida em decreto”, descreve Diana Rêgo, da Sesap.

O decreto de nº 30.795, de 4 agosto de 2021, foi o último a impor restrições relacionadas à circulação de pessoas no Estado. O texto perdeu validade no dia 16 de setembro.

Imunologista diz que momento é de estabilidade
Para o imunologista Leonardo Lima, o momento é de estabilidade, o que não descarta a necessidade de vacinar quem ainda não se imunizou ou deixou de completar o esquema vacinal. “Hoje temos muita gente com a D2 em atraso. Então, os gestores precisam fazer uma busca mais direta a essas pessoas”, afirma.

Questionado sobre se será necessário um novo endurecimento das medidas restritivas no que diz respeito à realização de atividades sociais e econômicas, o especialista discorre: “Uma medida que pode ser adotada, antes de ações como fechamentos e ações mais restritivas, é a necessidade de imunização para quem quer frequentar determinados ambientes”, relata.

“É preciso que os grandes eventos adotem protocolos sanitários, com a realização, de preferência, em ambientes abertos e bastante ventilados. Todos os frequentadores, necessariamente, devem estar vacinados, especialmente com as duas doses. E para os idosos, é importante vacinar com a D3 quem recebeu o imunizante há mais de seis meses”, emenda o especialista.

Leonardo Lima defende, ainda, que gestores adotem medidas para incentivar a imunização. “É preciso que tomadores de decisão assumam suas responsabilidades e passem a estimular a população a tomar as duas doses da vacina. Caso contrário, é importante que restrinjam o acesso de quem não quer se imunizar ou de quem está com a vacina em atraso”, pontua.

“No caso dos grandes eventos, essa ação provoca um reflexo social, porque vai fazer com que as pessoas busquem uma unidade de saúde para tomar a vacina”, emenda Leonardo Lima, para quem os eventos de final de ano poderão ser mais seguros se as regras de prevenção à doença e o avanço da imunização forem mantidos. “Dá para confraternizar no final do ano, mas com todos os cuidados”, disse.

A infectologista Marise Reis evitou comentar sobre as festas de final de ano. “Não vou falar sobre isso, porque a gente não sabe como a variante Delta vai se comportar no nosso meio. Nesse momento, o que eu indico são os cuidados que eu já mencionei: vacina e regras de biossegurança”, sublinha a médica. “E fiquem atentos a sintomas respiratórios, como tosse, coriza, dor de gargante, febre. A qualquer sinal, busque o isolamento e procure fazer a testagem”.

Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Alex Régis