Foi em Mossoró, 28 anos antes de se tornar campeão potiguar como treinador do Globo, que nasceu Hugo Chacon. Mas foi no Conjunto Santarém, zona Norte de Natal, onde foi criado, que ele deu seus primeiros passos no esporte. Passou toda a sua infância dividido entre o futebol e o karatê. Aliás, foi através da arte marcial que desenvolveu a disciplina que é a sua maior marca.

“Hugo foi um dos melhores alunos que tive. Dedicado, esforçado, disciplinado e muito duro. Não me admira em ver tudo que ele está conquistando”, diz Ranyere Damasceno, professor de karatê.

Após forte impacto emocional, Chacon decidiu ser treinador, aos 17 anos, idade em que muitos meninos sonham em ser jogador. Era dia de jogo, e o então goleiro das bases de um clube de Natal tinha nas arquibancadas a ilustre presença de Armando Chacon, seu pai.

Em um determinado momento, o treinador chamou o jovem goleiro para aplicar uma bronca, digamos, mais do que exacerbada. Depois dos berros que ouviu seu filho digerir, seu Armando apenas ficou em silêncio, que só se quebrou no momento de voltar para casa. “Olha, Hugo, sei que esse é seu sonho, mas não conte mais com seu pai para apoiar e ver nenhum jogo, pois não nasci pra ver filho meu levando grito de ninguém”, disse seu Armando na ocasião. Nascia ali o treinador Hugo Chacon.

“Desde esse dia, decidi que seria treinador, para que, pelo menos comigo, garantir que filho de ninguém levasse grito à toa”.
Dedicado em tudo o que faz, Chacon ainda se destacou como goleiro enquanto cursava Educação Física na UFRN, sendo convocado para defender a Seleção Brasileira Universitária de futebol e de beach soccer.

Após se formar, partiu para Portugal, onde está com mestrado em andamento na Universidade do Porto em Treinamento Desportivo de Alto Rendimento. Lá do outro lado do oceano ainda foi treinador do sub-17 e auxiliar técnico do Águas Santas.

De volta ao Brasil, comandou o centenário Alecrim Futebol Clube na segunda divisão do Campeonato Potiguar de 2019, sendo vice-campeão, apesar da campanha invicta.

Em 2020, assumiu o Palmeira Futebol Clube na lanterna do Campeonato Potiguar da primeira divisão, e entregou o cargo com o clube na quarta posição. Retornou ao clube e montou o time que viria a ser campeão da segundona de 2021.

No comando do Globo, em 2021, aos 28 anos, tornou-se o treinador mais jovem da história do Brasil a ganhar uma competição profissional de futebol. Honrando a disciplina aprendida no karatê, a memória do seu pai e respeitando todos ao seu redor.

Ainda à frente do Globo, Hugo tem o calendário mais cheio do ano dentre os times potiguares, e fala, nessa entrevista, do desafio de se manter no topo do futebol potiguar. (Rodrigo Cruz, especial para Tribuna do Norte)

O que você espera do elenco para 2022?
As expectativas em relação ao elenco são as melhores possíveis. Conseguimos contratar atletas novos mas com experiência, o que é o perfil do Globo. Temos esperança de fazer uma grande campanha e, quem sabe, conseguir surpreender mais uma vez.

Quantos campeões permanecem no seu elenco?
Da equipe campeã permanecem Mizael (goleiro), Mael (zagueiro), Ramon e Hitalo (volantes) e Chaparral (extremo). Ao total, 5 remanescentes.
Dos atletas do ano passado, perdemos os grandes destaques para grandes clubes. Negueba e Varão, que hoje estão no Mirassol(SP), na época saíram para ABC e América respectivamente. Já o Clayton foi para o Vila Nova (GO), disputar a série B. Os demais atletas seguiram para grandes centros, principalmente Minas Gerais(2) e São Paulo (5), mas hoje já se espalharam em outras equipes.

Como será seu planejamento para o ano em que o Globo terá o calendário mais completo entre os clubes potiguares?
Dentro do nosso planejamento, iremos priorizar o campeonato estadual que é o que nos dá calendário pro ano que vem. Utilizaremos a Copa do Nordeste para dar rodagem aos atletas mais novos que queremos projetar pros anos seguintes e dessa forma filtraremos o grupo para chegar o mais forte possível numa série D. Claro, que nesse meio termo tem uma competição importantíssima que é a Copa do Brasil, onde tentaremos surpreender para que, com a premiação, a gente consiga fortalecer ainda mais o elenco.

O elenco tem um número suficiente de jogadores para se mostrar competitivo em todas as competições?
Com certeza. Hoje trabalhamos com 30 atletas, três por posição. Fora os atletas que compõem o sub-20 e podem ser promovidos.

Quais os maiores concorrentes do Globo no estadual? Alguma surpresa pode ser apontada fora ABC e América?
Todos os clubes estão montando elencos fortes. ABC e América sempre são favoritos pela história. Potiguar de Mossoró, Assu e Potyguar de Currais Novos, jogam com a força das cidades que representam. O Força e Luz e o Assu sempre vem surpreendendo a nível de planejamento, montando fortes equipes e chegando nas competições. Eu diria que é o campeonato mais forte dos últimos cinco anos.

Quais as pretensões do Globo na disputa da Série D? De cara conseguir o acesso?
Não podemos jamais chegar em uma competição sem almejar tudo aquilo que ela pode nos fornecer. O Globo hoje pensa sim em surpreender e conseguir o acesso. Trabalharemos muito forte ao longo do ano para conseguir atingir essa meta.

Ser o treinador mais jovem do Brasil a conquistar um título profissional te motiva de alguma forma?
Motiva bastante a continuar dando o exemplo para todos que, assim como eu, ainda são sonhadores. A minha meta era quebrar paradigmas e acho que pouco a pouco tô conseguindo isso. Ser o treinador mais novo do Brasil a ser campeão, é uma responsabilidade que levo com muito carinho e vou fazer de tudo para que isso continue a acontecer. Claro que isso é apenas estatística, mas fico feliz que a estatística esteja ao nosso favor.

Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Adriano Abreu