Ao menos onze capitais anunciaram o cancelamento do carnaval 2022. Entre elas, Recife, Rio e Salvador, reconhecidas nacional e internacionalmente pelos festejos. Além de São Paulo, nove ainda não tomaram decisão. Outras cidades com festas carnavalescas tradicionais, como Olinda e Ouro Preto, também não terão foliões nas ruas. As administrações municipais explicam que a não realização dos eventos se dá devido ao avanço da covid-19, com a cepa Ômicron, e da gripe, com a nova variante do vírus Influenza, a H3N2.

Organizações que representam blocos do carnaval de rua de São Paulo divulgaram um manifesto, na tarde de ontem, pelo cancelamento total do evento em fevereiro e março de 2022. O argumento dos grupos é que não é seguro realizar a celebração em meio ao avanço da variante Ômicron e um novo aumento nas taxas de transmissão da covid-19. Uma posição oficial da Prefeitura paulistana deve ser anunciada ontem.

Em Belém, Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Luís não irá ocorrer carnaval ou a prefeitura não pretende patrocinar o evento. Já em Brasília, Boa Vista, Manaus, Maceió, Natal, Palmas, Porto Alegre, Porto Velho, Rio Branco e São Paulo ainda não houve definição sobre a realização de blocos de rua e desfiles.

Cuiabá foi uma das primeiras capitais a anunciar o cancelamento de festas públicas e privadas de carnaval ainda no dia 1º de dezembro. O prefeito Emanuel Pinheiro resume a decisão em duas palavras: “Prudência e responsabilidade.”

“Nós já vimos que nessa guerra travada contra a covid, não podemos improvisar. O vírus é traiçoeiro. Ele se desdobra em outras variantes”, diz. “Estamos tentando sair de uma guerra e já estamos vendo um surto gripal. Então, no momento, não dá para dizer: ‘Olha, daqui a dois ou três meses vai estar tudo sob controle’. Qualquer evento que resulte em aglomeração e que movimente multidões é desaconselhável nos próximos meses.”

Além do cancelamento, o gestor disse estar “propenso” a decretar como dias úteis a segunda, 28 de fevereiro, e a terça-feira, 1º de março, de carnaval – que são pontos facultativos. No ano passado, ele já havia feito isso. “Estou só acompanhando o comportamento do vírus”, destaca.

“Se falar em dias de hoje, eu decreto”, conta. “Porque hoje a assombração da covid está voltando a nos preocupar de uma hora para outra. Isso é coisa de uma semana para cá, de quatro dias para cá, estamos detectando um crescente (de infecções) nas redes públicas.”

Ao mesmo tempo, Pinheiro, que também é presidente do Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Vale do Rio Cuiabá (reúne 13 cidades), busca coletividade, ao incentivar que outros municípios da região cancelem a festividade. “Vou reunir os prefeitos em uma reunião ordinária agora em janeiro, para planejar o ano. Nessa reunião, vou aproveitar para sensibilizar os prefeitos e pedir a todos os municípios vizinhos que possamos tomar uma decisão em conjunto de enfrentamento da pandemia e do surto gripal e não promover as festas públicas e privadas de carnaval.”
Em Florianópolis, tanto os blocos de rua quanto o desfile de escolas de samba foram cancelados na terça-feira, 4. Nas redes sociais, o prefeito Gean Loureiro disse que a gestão municipal “não vai promover grandes eventos neste momento de incertezas sobre a pandemia e emergências públicas e privadas com muita pressão de atendimento”.

Ao Estadão, Loureiro conta que, em novembro, a administração cogitava realizar tanto o réveillon quanto o carnaval, pois as taxas de transmissão e internação estavam baixas e a vacinação, avançada. “Na segunda quinzena de dezembro, os casos voltaram a subir por conta da variante Ômicron e decidimos cancelar o réveillon. Nesta terça-feira, em reunião com secretários e equipe de saúde, avaliamos que seria prudente o cancelamento do carnaval também”, disse.

“Não temos como precisar como estará o cenário epidemiológico daqui a 60 dias, mas precisávamos iniciar desembolso de recurso para que as escolas de samba pudessem iniciar a compra de materiais. Sem ter a certeza de que poderíamos realizar o evento, decidimos por não assinar contrato agora e nem desembolsar recursos”, continua.

No Twitter, o gestor informou que analisando a lotação de emergências na capital, não “faria sentido” destinar recursos para que as escolas de samba se preparassem. Ele destacou que, no momento, o foco é contratar “pessoal temporário para reforçar testagem”.

Prefeitura do Recife suspende programação
A Prefeitura do Recife suspendeu as programações oficiais para o carnaval 2022, ontem. A administração destaca que apesar de “não apresentar um quadro de aumento de casos de infecção em decorrência do novo coronavírus”, a cidade enfrenta um crescimento expressivo de casos de gripe.

Conforme a prefeitura, o número de casos diários confirmados da cepa H3N2 do vírus Influenza saltou de oito para 138 casos entre os dias 13 e 29 de dezembro, com picos de até 314 casos em um só dia. Até o momento, o município confirmou 2.451 casos da variante Darwin, dos quais 17 evoluíram para morte – os pacientes tinham idades entre 13 e 91 anos.

Reconhecida nacional e internacionalmente pelo festejo de carnaval, Salvador não vai ter foliões nas ruas neste ano. A Prefeitura de Salvador justificou o cancelamento devido ao “cenário atual de insegurança sanitária provocado pela Covid-19 e pela H3N2 (nova variante do vírus Influenza)”. “A cidade permite apenas a realização de eventos em ambientes fechados, seguindo os protocolos sanitários do setor e com limite de público de 5 mil pessoas, determinado por decreto estadual”, disse.

No dia 23 de dezembro, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou que não haveria carnaval no Estado em 2022.

A prefeitura de Belo Horizonte disse que não vai patrocinar os festejos carnavalescos de 2022. Porém, destaca, em nota, que “os desfiles das escolas de samba, blocos caricatos e blocos de rua são considerados manifestações culturais espontâneas de Belo Horizonte, não sendo necessária autorização prévia da administração municipal para a sua realização”.

No Rio de Janeiro, os blocos de carnaval não vão desfilar pelas ruas em razão da pandemia de covid.

Olinda e Ouro Preto decidem cancelar festejos
Assim como nas capitais, cidades que tradicionalmente realizam festas no carnaval também cancelaram os festejos. Entre elas, Olinda, em Pernambuco, e Ouro Preto, em Minas Gerais. A Prefeitura de Olinda cancelou ontem a realização do tradicional carnaval de rua. A administração municipal tomou a decisão levando em conta o “atual período pandêmico da covid-19” e o aumento de infecções pelo vírus influenza.

Lupércio disse que seria uma “irresponsabilidade muito grande” promover festividades públicas neste momento, uma vez que a cidade, em média, recebe quatro milhões de foliões de cerca de 80 países. “Imagine uma cidade que recebe mais de quatro milhões de pessoas. Como é que iria ficar?”, pondera.

Quanto às festas privadas, Lupércio pretende seguir decreto estadual que permite eventos em locais com lotação de 50%. Passaporte vacinal também é exigência.

Por meio do Decreto no 6.319/2021, a prefeitura de Ouro Preto oficializou o cancelamento de eventos públicos ou privados de comemoração do carnaval. Ficou proibida a realização de “bailes de carnaval; blocos e agremiações; carnavais de rua; festas em repúblicas; festas em sítios e eventos privados de qualquer espécie”, conforme o texto. Quem descumprir a determinação poderá ter prisão de até um ano decretada, ou ter de pagar multa, de acordo com o artigo 268 do Código Penal.

Em 10 de dezembro, em assembleia da Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais (ACHMG), os 30 municípios integrantes decidiram pela não promoção dos eventos carnavalescos. Ouro Preto, Diamantina e Tiradentes fazem parte da ACHMG.

Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil