Com o calendário eleitoral se aproximando, a pressão de aliados pela reforma ministerial aumenta. Mas o presidente Jair Bolsonaro (PL) pretende blindar três pastas dos avanços do centrão: Saúde, Infraestrutura e Desenvolvimento Regional.
Segundo relatos de ministros e auxiliares palacianos, o mandatário considera esses ministérios sensíveis pelo volume de orçamento, em especial destinados de emendas parlamentares, e pela importância em ano eleitoral.

Infraestrutura e Desenvolvimento Regional são cobiçados por congressistas por realizarem as principais obras do governo federal nos estados.

Segundo o próprio Bolsonaro, 12 dos 23 ministros devem deixar a Esplanada no final de março. A lei determina que autoridades devem deixar cargos públicos em abril para disputar as eleições.

Em entrevista a jornalistas no sábado (8), o presidente admitiu a possibilidade de parlamentares assumirem ministérios, mas disse que serão feitas “escolhas internas”, e que “dificilmente vai ter um acordo por fora”.

“Já começamos a pensar em nomes, alguns já estão mais do que certos”, disse. “(Mas) Não quero falar agora, porque vai começar uma ciumeira: por ele e não eu? E ciúme de homem é pior do que mulher”.

Dessas vagas, em apenas uma o sucessor é dado como certo por auxiliares de Bolsonaro: Infraestrutura. O secretário-executivo, Marcelo Sampaio, deve assumir o lugar de Tarcísio de Freitas. O titular articula candidatura ao governo de São Paulo.

Considerado técnico, Sampaio é engenheiro de formação e servidor de carreira do Ministério da Economia. Além disso, conta com o apoio de Tarcísio e do ministro da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos, de quem é genro.

O ministério ficou sob o comando do PL em governos passados, e havia uma expectativa de que, com a filiação do presidente, o partido de Valdemar Costa Neto tentasse voltar para a Infraestrutura. A pasta tem orçamento de R$ 18,2 bilhões neste ano.

Segundo relatos, Sampaio vem tentando desde já estabelecer boas relações com congressistas e com lideranças do PL. Foi aconselhado a procurar Valdemar, o que ainda não ocorreu.

Na Saúde, com orçamento de R$ 160,5 bilhões, a expectativa é que Marcelo Queiroga não concorra a nenhum cargo. Ele já foi cotado a deputado federal e senador pela Paraíba, mas interlocutores do ministro dizem que ele desistiu ao perceber que o cenário no estado não era favorável.

Para o governo, o ideal também seria que ele continuasse na pasta, historicamente comandada pelo PP. Tiraria mais um ministério importante da mesa de negociações em ano eleitoral.

Se Queiroga contrariar expectativas e decidir se candidatar, auxiliares palacianos acreditam que Bolsonaro tentará uma “escolha interna” para a pasta, mas admitem que a pressão dos aliados será forte. Neste cenário, o secretário-executivo Rodrigo Cruz seria uma opção.

Já no Ministério do Desenvolvimento Regional, com R$ 13,6 bilhões de orçamento, o futuro é incerto.

Ministros dizem que ainda não há uma definição sobre quem assumirá no lugar de Rogério Marinho (PL), que sairá para disputar uma vaga ao Senado pelo Rio Grande do Norte.

Assim como o titular da Infraestrutura, Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) e João Roma (Cidadania) devem disputar o governo do Rio Grande do Sul e da Bahia, respectivamente.

A pasta de Roma, na avaliação de auxiliares do presidente, deve ter sucessor indicado pelo Republicanos, mesmo partido do ministro.

Dirigentes da sigla têm protagonizado embates recentes com o governo, notadamente com a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, mas o Republicanos faz parte da base de apoio de Bolsonaro.

A fritura, ocasionada por falta de pagamento de emendas, causou um movimento para antecipar a saída de Flávia da pasta. Como a Folha mostrou, o chefe de gabinete de Bolsonaro, Célio Faria Jr., se cacifou para o cargo.

Entretanto, o presidente baixou a temperatura ao sair da internação no hospital em São Paulo, onde estava em razão de uma obstrução intestinal.

“Onde a Flávia Arruda está errando? Desconheço. Se por ventura estiver errando, como acontece, né, eu chamo e converso com ela. Ela não será demitida jamais pela imprensa”, disse.

Deputada pelo PL do Distrito Federal, ela concorrerá ao Senado neste ano, assim como Tereza Cristina (Agricultura). Para este segundo ministério, o governo inicialmente quis indicar o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), com intuito de dissuadi-lo de disputar o governo gaúcho contra Onyx.

A articulação, até o momento, parece não ter prosperado. O secretário-executivo de Tereza, Marcos Montes, também está no páreo.

No Rio Grande do Norte, a vaga de candidato do bolsonarismo ao Senado está sendo disputada por dois ministros: Marinho e Fábio Faria (Comunicações).

O titular do Turismo, Gilson Machado, é citado para concorrer a uma vaga de senador ou deputado em Pernambuco. Mas a aliados o ministro têm comemorado resultados de enquetes online que mostram seu nome bem posicionado na disputa pelo governo do estado.

Anderson Torres, ministro da Justiça e da Segurança Pública, concorrerá a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Distrito Federal.

A conta do presidente de 12 ministérios pode incluir nomes que, reservadamente, sinalizam ter mudado de ideia sobre as eleições, assim como Queiroga.

Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Milton Ribeiro (Educação) também eram cotados para disputar cargo público, provavelmente na Câmara dos Deputados.

No caso de Damares, apostava-se que poderia ter um bom desempenho eleitoral, especialmente por causa do eleitorado evangélico.

Entretanto, interlocutores da ministra dizem que ela não quer disputar nenhuma vaga neste ano e já até avisou Bolsonaro da decisão.

Auxiliares palacianos também acreditam que Milton Ribeiro (Educação), que comanda pasta com R$ 137,9 bilhões de orçamento, também agora deve acompanhar o presidente até o final do mandato.

Já o futuro político do astronauta Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) é considerado incerto. Ele já chegou a ser cotado para concorrer a uma vaga de deputado federal.

Há ainda uma nova possibilidade de mudança no xadrez da Esplanada. Na hipótese de o ministro da Defesa, Braga Netto, integrar a chapa do presidente para a reeleição, como vice, surgiria uma nova pasta na reforma.

Neste cenário, o ministro Luiz Eduardo Ramos, que é general, poderia assumir o posto. Ele chegou a ser cotado quando, em março do ano passado, Bolsonaro demitiu o ministro Fernando Azevedo e Silva da pasta.

Segundo interlocutores, Ramos ainda resiste à ideia por considerar um assento palaciano mais propício para o momento eleitoral, mas também não costuma negar “cumprir missão” a pedido do presidente.

Diante do surgimento de candidatos que nunca disputaram um cargo público e que devem contar com o apoio do presidente, líderes do centrão dizem que deve haver um remanejamento entre partidos que hoje compõem a base do governo: PP, PL e Republicanos. A dúvida, porém, é quem seguiria para este último partido.

Tereza Cristina e Faria devem ir para o PP. Marinho e Onyx já se filiaram ao PL.

Tarcísio tende a se filiar ao PL, mas diz a aliados que ainda não bateu o martelo. O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, já convidou o titular da Infraestrutura para se filiar ao partido.

Fonte: Blog do BG/Folhapress
Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino