Cantora mineira de 14 anos mistura pop com pisadinha e é a maior aposta musical brasileira para 2022. Ao g1, ela e o pai lembram ‘sofrimento’ até estourar e adiantam planos para 2022.

Ela tem 14 anos recém-completados. Carrega com orgulho o apelido de fadinha do piseiro. Brisa Star teve duas músicas entre as mais tocadas do Brasil em 2021, inspiradas em hits de Miley Cyrus e Camila Cabello.

Agora, a cantora mineira prepara feats com Dennis DJ, João Gomes e Zé Felipe para os próximos meses. A mãe da Brisa era professora, mas hoje Suelita é a assessora da filha. O pai Lázaro Júnior é líder do Kassanikeo, trio de forró eletrônico na ativa desde 2002.

Ele segue com a banda, mas na maior parte do tempo produz e compõe todas as músicas da filha, sempre com o nome artístico Juninho Pirado. Brisa começou a cantar com oito anos.

“Eu andava cantando para todo canto”, lembra Brisa ao g1. “E aí minha mãe reparou que eu cantava e falou com o meu pai. Aí, eles me chamaram e falaram assim: ‘Brisa, canta essa música aqui pra mim’. Colocaram o playback e eu cantei bonitinha e eles gravaram escondido.”

Brisa não curtia ser gravada. “Tinha muita vergonha. Aí, eles filmavam, mandavam no grupo da família. E aí teve uma vez que o povo gostou muito e decidiu gravar uma música certinha. Fui cantar e fiquei paradinha, porque eu sou muito tímida.”

Essa “música certinha”, a primeira gravação oficial da Brisa, foi “Dançando”, de 2018, quando ela tinha 11 anos. “Dançando” é muito parecida com “Ginza”, uma música do J. Balvin com Anitta, de 2016. Os compositores da original não levaram crédito. Oficialmente, o único autor é Juninho Pirado.

Brisa lançou extraoficialmente no YouTube outras covers. O repertório já teve “Dance Monkey”, da Tones and I; e “Salva-me”, do RBD. No fim de 2021, gravou “Como eu quero”, uma versão piseiro romântica de Kid Abelha.

Brisa Rocha Ladislau Da Conceição nasceu em Ibiaí, no Norte de Minas Gerais. É uma cidadezinha de 8 mil habitantes,175 quilômetros distante de Montes Claros, a maior cidade na região.

Foi em um shopping de lá que ela teve que ir, aos sete anos, para ver o show da cantora e atriz preferida: Larissa Manoela. “Eu sempre falei que queria ser ela…Tem um filme que eu amo que que é ‘Modo avião’. Você já ouviu falar? Já assisti 10 vezes.”

Se jogou no passinho
Brisa foi melhorando feat a feat, às vezes com a voz mais processada (ou autotunada), e outras com a voz mais natural. O primeiro sucesso veio em agosto de 2020. “Se joga no passinho” foi gravada com o cantor mineiro Thiago Jhonathan e tem mais de 170 milhões visualizações no YouTube.

É mais um caso de música que impulsionada pelas dancinhas do TikTok, uma história cada vez mais comum:

“A gente descobriu que estava estourando no TikTok. Meu pai estava mexendo no TikTok e apareceu um vídeo com ‘Se joga no passinho’. Aí ele entrou no áudio e tinha mil vídeos. E aí ele já ficou empolgado: ‘Brisa do céu, tá estourando’. No outro dia, já tinha aumentado muito mais. E aí depois foi só aumentando, aumentando, aumentando.”

Depois do TikTok, “Se joga no passinho” foi migrando para outros lugares: além do YouTube, ela estourou no streaming em junho de 2021. No Spotify, Brisa tem média de quase 5 milhões de ouvintes mensais. Para se ter uma ideia, Pabllo Vittar tem 4 milhões.

Pouco depois desse estouro, no começo de outubro de 2021, Brisa se mudou para Fortaleza. Ela e o pai assinaram contrato com a Vybee, a produtora que cuida das carreiras de Xand Avião e Zé Vaqueiro.

“Eu estou amando Fortaleza. A primeira vez que eu vim para cá foi para gravar o videoclipe da música ‘Cena de amor’ e aí eu já falei: ‘Mãe, pai, eu quero vir morar aqui’ e agora a gente está morando aqui. Coisa de Deus.”

“Cena de amor” foi o segundo grande sucesso da Brisa Star, já no segundo semestre de 2021, cantando com o Zé Vaqueiro, de quem ela se diz “muito, muito, muito fã”.

“Na hora que eu vi o Zé Vaqueiro, eu tentei ficar mexendo no meu celular na hora que eu vi que ele estava vindo… eu assustei. Eu tremi demais. Na hora, eu não sei o que acontece. Na hora de cantar, eu concentro e falo ‘não posso!’ e depois eu nem me lembro o que aconteceu direito.”

“Se Joga no Passinho” foi gravada por Brisa e o trio Kassanikeo, mas Juninho botou na cabeça que precisava de um feat mais forte. O pai de Brisa já tinha escrito oito músicas para Thiago Jonathan, cantor de forró muito forte na Bahia e no Norte mineiro.

“Ele ia gravar 28 videoclipes, e disse que ele me dava um… Minhas condições eram poucas e ele me dava um videoclipe, para eu ir para Goiânia”, recorda Juninho.

Pai filha rumaram para Goiânia. “Eu não tinha dinheiro para pegar o ônibus, porque estava na pandemia. Eu sempre fazia show regional e tal, mas estava sem show. Eu fiquei sem graça de falar ‘TJ, não vou porque não tenho dinheiro’. Nisso, um amigo meu me emprestou R$ 800. Nós fomos de ônibus. Pensa num sofrimento.”

O figurino foi emprestado de uma loja. “A roupa era maior do que ela. Ela gravou ‘Se joga no passinho’, segurava o sutiãzinho dela, segurou com o braço porque o sutiã dela tinha quebrado… você vê que ela fica parada o tempo todinho. Ela bem tímida…”

Juninho só notou o perrengue da filha depois da gravação. Ele tentou pedir que o clipe fosse gravado de novo, mas recebeu um “não”. “Gravou ela uma vez e falou ‘tá bom, tá bom’. E eu fiquei com o coração partido.”

Ao receber o clipe, mais uma surpresinha. “Sabe como salvou o nome de Brisa na edição do videoclipe? ‘Menina doida!’ O cara que estava na edição salvou ‘Menina doida’. Desse jeito. Quando o TJ mandou para mim, ele não percebeu… Então, foi uma história de superação gigantesca dela.”

Depois de toda essa treta, rolaria mais uma confusão entre TJ e Juninho. Os dois combinaram que o dueto se repetiria em “Cena de amor”, mas chegou uma mensagem no celular do Juninho. Era o DJ Ivis e ele queria gravar com Brisa.

Bem antes da ida de Brisa para o estúdio, foram divulgados os vídeos em que o DJ Ivis agride a ex-mulher, Pamella Holanda. Ele ficou três meses preso. Brisa gravou uma versão sozinha de “Cena de Amor”, mas daí apareceu um áudio de zap no celular de Juninho. “Tinha dois dias que o Zé Vaqueiro tinha me mandado.”

Sucesso rima com processo?
“Cena de Amor” foi regravada com Zé Vaqueiro, o original. Mas a música não é tão original assim. Ela tem melodia igual à de “Something’s gotta give”, gravada por Camila Cabello em 2018. “Se joga no passinho”, por sua vez, tem trechos de “We Can’t Stop”, da Miley Cyrus, de 2013.

Para Daniel Campello, advogado especialista em direito autoral, são casos de “plágios clássicos”. Segundo ele, são “versões” das originais.

“Tem o critério da prova de acesso tendo em vista que são sucessos internacionais. E aí o critério de dolo ou ma fé fica muito claro, porque há uma dose de ‘esconder’ a autoria. Precisam de autorização para serem comercializadas.”

Campello recomenda que Juninho busque a editora das artistas para regularizar essas versões, mas o pai de Brisa não parece disposto a fazer isso. Até porque, por enquanto, ninguém entrou em contato.

“O que acontece é que antes de a gente acontecer nacionalmente, eu fiz muito isso. Então, é uma coisa que era constante para mim, eu me inspirar em músicas internacionais”, explica Juninho.

Ele diz que já contabilizou mais de 200 versões não autorizadas. “Então, quando você é desconhecido isso não tem peso, eu não sei o que falar como que vai ser, mas a gente está aberto a ver isso tudo. Acho que se chegar até ela, é perigoso rolar até um feat”, diz, rindo.

Camila Cabello está na programação do Rock in Rio e Miley Cyrus é uma das atrações do Lollapalooza. Tão cara de pau quanto simpático, Juninho fala que não vai se surpreender se elas tocarem “um pedacinho” da versão de Brisa.

Melô do Neném Rasta?
“Eu vou ser bem sincero: eu não conhecia essa música com Miley Cyrus. Eu vi um reggae com uma pessoa fazendo cover, eu não sabia nem que essa música era de Miley Cyrus, você acredita em mim? Eu vi com um reggae, um reggae de uma criança… você vai ver o timbre de Brisa é bem parecido com o da loirinha. E o pessoal botou o nome de ‘Melô do Neném Rasta’.”

O “Melô do Neném Rasta” é um remix reggae de uma cover de “We can’t stop”. A cover é da banda Boyce Avenue, e a criança é a cantora Bea Miller. Hoje, ela tem 22 anos e tinha 12 na época da cover. Bea participou do programa “The X Factor”.

Juninho mirou na Neném Rasta e acertou na Miley Cyrus. No caso da Camila Cabello, a inspiração foi direta mesma.

“Cara, a Camila foi uma coincidência. Porque essa música é desconhecida. Estava escutando e veio a letra na minha cabeça. Na realidade, quando eu fiz essa versão, chamava ‘Filme de amor’. A minha mulher falou ‘Não, ninguém vai cantar filme, não. Filme não pega, coloca cena’. Eu falei com ela ‘Ah, você é compositora agora’. Eu fui cantando e pensei que ‘Cena de amor’ ficou melhor.”

Além de dividir os direitos autorais com Camila Cabello, terá que dividir com a esposa também? Juninho começa a rir: “Não, não… em nome do Senhor”.

A mãe também merece o crédito por ter notado que Brisa sabia cantar. “A gente tem dois filhos, o Enzo e o Gabriel, e nenhum desenvolveu nada para música, sabe? Eu não iria esperar que viria uma menina e que ia vir o meu lado musical, né? Eu tinha o maior carinho com ela, mas ela não cantava para eu ver. Quando ela cantou, eu fiquei encantado na hora.”

Mais hits brisados
Depois dos sucessos seguindo o passinho de popstars internacionais, agora tudo o que Brisa Star lançar vai ter autorização, sem o esquema de versão não-oficial.

Foi assim com o Kid Abelha e com “Motinha”, feat com Dennis DJ. A música é toda criada a partir da batida de “Blue (da ba dee)”, da banda italiana Eiffel 65, dona do Grammy de gravação de dance music, em 2001.

Brisa Star tem ainda parcerias engatilhadas com João Gomes, em “Que acabou”, e prepara outra com Lucy Alves. Zé Felipe e MC Pedrinho também gravaram com ela.

Enquanto isso, ela começou a fazer aulas de violão e segue estudando: o sonho é ser médica. “Agora é lutar para conseguir conciliar tudo certinho, mas se Deus quiser vai dar certo.”

Enquanto o pai pensa na carreira, Brisa tem preocupações mais urgentes, como brincar na rua quando volta para Ibiaí. “Juntava eu e umas dez meninas assim na rua e a gente ficava brincando, de Doninho da Rua, subia em árvore igual macaco”, diz, empolgada.

“É uma brincadeira que você ficava no meio da rua e tentava atravessar. Você brincava? É muito legal. Se a pessoa encostar em você não pode sair de lá!”

Fonte: G1
Foto: Divulgação