O presidente Jair Bolsonaro pôs um ponto final na trégua com o Supremo Tribunal Federal (STF) e distribuiu críticas aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, vinculando os dois à campanha do PT ao Palácio do Planalto. Bolsonaro acusou os magistrados de cassar “liberdades democráticas” para beneficiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que Barroso entende de “terrorismo”. Pré-candidato à reeleição, o presidente fez nova ofensiva contra integrantes da Corte um dia após o Brasil registrar a maior taxa de inflação desde 2015.

“Quem é que esses dois pensam que são? Quem eles pensam que são? Que vão tomar medidas drásticas dessa forma, ameaçando, cassando liberdades democráticas nossas, a liberdade de expressão?”, questionou Bolsonaro em entrevista à Gazeta Brasil, um site que o apoia. “Eles têm candidato. Os dois, nós sabemos, são defensores do Lula, querem o Lula presidente.”

O presidente mantém uma relação tensa com o STF desde que assumiu o governo. O auge do conflito, porém, ocorreu nas manifestações de 7 de setembro do ano passado, quando ele chamou Moraes de “canalha” e disse que poderia desobedecer a ordens judiciais. Aconselhado a se desculpar, divulgou uma carta, escrita com a ajuda do ex-presidente Michel Temer, afirmando que havia feito declarações “no calor do momento”. Desde então foi selado um armistício.

Chapa
No julgamento da chapa Bolsonaro-Mourão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no ano passado, Moraes admitiu a existência de fake news e disparos de mensagens em massa na campanha de 2018. A chapa foi absolvida, mas o ministro destacou que, se neste ano houver repetição do que ocorreu, o registro da candidatura será cassado e os responsáveis podem ir para a cadeia.

“Isso é jogar fora das quatro linhas (da Constituição). Eu sempre joguei dentro das quatro linhas. Não se pode falar em terrorismo digital”, reagiu o presidente. “Que terrorismo é esse? É o que ele acha que é? Quem são os checadores de fake news no Brasil? Contratados a troco de quê?”

As críticas a Barroso, por sua vez, foram motivadas por uma declaração dada pelo ministro, que também preside o TSE. Em recente artigo, o magistrado defendeu a regulação das redes sociais, sob o argumento de que há “milícias digitais” e “terroristas verbais” que disseminam ódio, mentiras, teorias conspiratórias, além de ataques à democracia.

“De terrorismo ele entende. Ele defendeu o terrorista Cesare Battisti, italiano que matou quatro pessoas de bem”, disse Bolsonaro. “Chegando aqui no Brasil, o advogado dele foi o Luís Barroso. E, dado isso aí, ele conseguiu, junto ao PT, ser alçado ao Supremo”, completou, ao destacar que Barroso foi indicado pela então presidente Dilma Rousseff para a Corte por ter defendido Battisti. “Qual crime cometi, senhor Luís Roberto Barroso? Quais as fake news que eu pratiquei?”

Procurados, Moraes e Barroso não quiseram se manifestar.

O blogueiro bolsonarista foragido Allan dos Santos reproduziu, no Telegram e no Gettr, o vídeo com os ataques aos ministros. “Todo puxa-saco é idiota. Lute firme contra essa corja, Bolsonaro”, escreveu.

Adversários
O presidente Jair Bolsonaro (PL) também voltou a atacar adversários e, durante evento oficial no Palácio do Planalto, afirmou que “bandidos” e “canalhas” não podem voltar ao governo. Sem mencionar nominalmente, o chefe do Executivo criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto para o pleito de 2022.

“Muitos de vocês, a maioria de vocês que trabalham comigo poderiam estar muito bem fora na iniciativa privada, mas estão aqui dando a sua cota de sacrifício, ajudando esse Brasil aqui a realmente, vencer essa crise aqui, que se encontra no momento, e fazer também com que não volte para as mãos de bandidos, canalhas, que ocupavam esse espaço aqui para assaltar o País para um projeto de poder”, declarou Bolsonaro.

Moro diz que polarização prejudica o país
O pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos) classificou o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como duas alternativas eleitorais “muito ruins” e que podem agravar o cenário econômico do País neste ano. Segundo ele, a polarização do pleito presidencial entre os dois, algo que se desenha nas pesquisas de intenção de voto, pode fazer o mercado perder a confiança na recuperação do crescimento, o que aprofundará ainda mais a crise.

“Temos duas alternativas que são ruins. A primeira é a continuidade deste governo, que não tem projeto para o País, não tem rumo, e agora contraria as promessas de responsabilidade fiscal e de redução da dívida pública. A outra é a do ex-presidente Lula, e a gente lembra que esse governo não acabou bem. Ao fim desse governo, tivemos a maior recessão da história entre 2014 e 2016”, afirmou nesta terça-feira, 11, Moro em palestra no evento “Money Week – Cenários 2022”.

O ex-juiz federal criticou a política econômica do governo Bolsonaro e disse que houve perda de credibilidade da gestão nessa área devido a medidas como a PEC dos Precatórios, o que levou, para ele, ao fim do teto de gastos.

“PEC dos Precatórios tem aspecto muito positivo, que é a expansão do antigo Bolsa Família, que é necessária. Mas com a PEC, são aumentadas outras receitas, de duvidosa necessidade neste momento”, “, disse o ex-ministro.

Pesquisa mostra estabilização dos candidatos
Pesquisa Genial Investimentos em parceria com a Quaest, divulgada ontem, mostra que a corrida para o Palácio do Planalto está estabilizada. Apesar de oscilações, o cenário continua o mesmo desde julho do ano passado, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como favorito, atualmente com 27% das intenções de voto (4 pontos porcentuais a mais desde o último levantamento). Em segundo lugar vem o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 16% das intenções (1% a mais).

Na disputa pelo terceiro lugar, a pesquisa espontânea mostra que competem o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT) e o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), empatados com 1% das intenções de voto cada um. Brancos e nulos são 3%.

Na pesquisa estimulada, o cenário não muda. Lula continua na liderança, dessa vez com 45% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 23%. Na sequência vem Moro (9%), Ciro (5%) e o governador João Doria (PSDB-SP), com 5% das intenções de voto.

A aposta do MDB, Simone Tebet, fica com 1% das intenções de voto. Rodrigo Pacheco (PSD) e Felipe D’avila (Novo), não pontuaram o suficiente para alcançar 1% das intenções de voto.

A pesquisa Genial/Quaest ouviu 2 mil pessoas das cinco regiões do País entre os dias 6 e 9 de janeiro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.

Grupos disputam plano do PT para a economia
Quatro grupos buscam protagonismo na montagem do programa econômico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a campanha ao Palácio do Planalto. Participam dos debates a Fundação Perseu Abramo, centro de estudos do PT dirigido pelo ex-ministro Aloizio Mercadante; o Instituto Lula, comandado pelo ex-presidente do Ipea Marcio Pochmann; a ala sindical, liderada por ex-diretor do Dieese Clemente Ganz Lucio; e o grupo de parlamentares que vêm apresentando projetos econômicos no Congresso com a consultoria de ex-gestores, entre os quais o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa.

Na reforma trabalhista há divergências em relação ao que deve ser revogado e a cúpula do PT afirma que o programa de governo estará alinhado às parcerias políticas. Cotado para vice de Lula o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin – ainda sem partido – mostrou descontentamento com as ideias de um “revogaço” da reforma aprovada no governo Michel Temer. A ala do PT interessada no acordo disse que tudo será discutido com o Congresso, caso Lula vença a eleição.

O fim do teto de gastos une todos os grupos. A regra criada no governo Temer para limitar o crescimento das despesas à variação da inflação tem sido citada por Barbosa e por outros economistas como uma camisa de força, algo “inexequível”. Há, porém, discordâncias sobre a melhor forma para o desenlace. Outra parte das desavenças se refere a quais medidas devem ser adotadas primeiro na economia, caso o ex-presidente retorne ao Planalto, em 2023. Aumentar o salário mínimo ou usar os recursos orçamentários para reforçar os programas sociais e o combate à pobreza ou, ainda, incentivar os investimentos públicos, que estão no chão, para ativar o crescimento e o emprego? Todos esses temas, aliados à necessidade da reforma tributária com mais justiça na distribuição de renda, são fundamentais para os economistas consultados pelo PT.

Reuniões
Uma primeira reunião de Lula com eles, para discutir essas ideias, foi marcada para sexta-feira. Ao menos até o lançamento oficial da candidatura, porém, o ex-presidente tem dito que não terá porta-voz. Os economistas não falam em nome do partido nem da campanha, que não foi lançada oficialmente, mas têm se posicionado em vários assuntos.

Desde o início da pandemia de covid-19, as reuniões presenciais deram lugar a conversas virtuais, por meio do WhatsApp. O grupo, porém, existe desde 2018. Ali, todos concordam em 90% dos temas. A divergência ocorre nos 10% restantes, segundo um dos participantes ouvidos pelo Estadão.

A ala sindical do PT puxou a fila com o debate sobre a revisão da reforma trabalhista. “Há uma crítica de que essa reforma foi regressiva, tirou o poder de negociação dos sindicatos e fragilizou o sistema de relações do trabalho”, disse Clemente Ganz Lúcio, assessor do Fórum das Centrais.

Lula promoveu nesta terça-feira, 11, um encontro, na Fundação Perseu Abramo, com economistas, líderes sindicais e representantes do governo da Espanha para debater justamente as mudanças adotadas nessa área pelo país europeu, em 2012, e a chamada “contrarreforma”. O ex-presidente defendeu a retomada do emprego, mas, de acordo com relatos, não disse se pretende revogar a reforma trabalhista.

Na Fundação Perseu Abramo estão os economistas do chamado “núcleo duro”, muitos originários da Unicamp, que devem participar da elaboração do programa de governo. Antes de Lula ser preso, em 2018, eles se reuniam quinzenalmente com ele. No grupo estão Guilherme Mello e Pedro Rossi. O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega também continua sendo interlocutor do ex-presidente.

Integrante desse núcleo, o economista Marcelo Manzano, pesquisador do Centro de Estudos em Economia do Trabalho e Sindicalismo da Unicamp, disse ser “importante rever a reforma trabalhista”. Na sua avaliação, seria necessário uma “análise mais pormenorizada” para decidir a extensão das mudanças.

“É interessante a ideia de montar um fórum tripartite para discutir a legislação trabalhista no Brasil, com todos os atores governos, trabalhadores e empregadores”, afirmou Manzano ao Estadão, destacando que falava apenas em seu nome.

Ciro Gomes chamada ex-juiz de ‘figura exótica’
O pré-candidato à Presidência da República nas eleições deste ano Ciro Gomes (PDT) chamou o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), também pré-candidato ao Planalto, de “figura exótica” ao postar vídeo no Twitter. Na gravação, Ciro cobra resposta de Sérgio Moro ao seu convite para um debate.

“Ontem, essa figura exótica, para ficar aqui numa palavra mais delicada, Sérgio Moro, esteve numa entrevista com meu amigo Mário Kertész na Rádio Metrópoles, Salvador. E você precisava ver a valentia do homem, parecia ele enfrentando os corruptos do PT, que era moleza. Dizia assim: eu aceito debater com quem quer que seja, porque eu sou o mais preparado”.

Ciro afirma que há três meses mandou uma carta a Moro o convidando para debater com ele, e que o ex-ministro respondeu que “tá lá no ponto, para o Mário Kertész chamar o debate agora”. Ciro disse ainda que topa fazer o debate na Globo, e até na sede da CIA se Moro quiser.

Em postagem na mesma rede, Ciro afirmou que ainda não recebeu nenhuma resposta do ex-ministro. “Mas um tema que gostaria de debater com ele é a sua intenção absurda de privatizar a Petrobras, crime que nem a dupla Guedes-Bolsonaro cometeu”, criticou.

Ciro questiona ainda se Moro propõe a privatização da estatal “por pura ignorância ou se faz parte da estratégia entreguista, de destruição do patrimônio nacional”, que, segundo o pedetista, o ex-ministro começou com a Operação Lava Jato.

Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Alan Santos/PR