Longe dos palcos por conta da pandemia de coronavírus, Zezé Di Camargo e Luciano aproveitaram para colocar em prática seus projetos solos. Luciano se dedicou ao álbum gospel, lançado em outubro de 2020.

Já Zezé gravou, em junho de 2021, as primeiras faixas do projeto “Rústico”. Ele pediu para que compositores enviassem canções que eles achassem que a nova geração do sertanejo não gravaria.

Na primeira etapa do projeto, Zezé registrou cinco faixas. Em agosto de 2021, lançou a primeira, “Vou ter de tomar uma”, que ganhou um videoclipe com a participação de Jacques Vanier.

Agora, o sertanejo pretende aumentar o projeto e fará a gravação de um DVD em abril ou maio. O disco vai contar com 15 faixas inéditas. Veja a entrevista com o cantor no vídeo acima.

Já o show da turnê “Rústico” terá 28 canções, segundo o cantor explicou no palco do evento de divulgação oficial do projeto. Na ocasião, Zezé também conversou com o g1 e respondeu a principal questão desde que os irmãos se voltaram para seus projetos solos: Afinal, a dupla acabou?

“Não. Estamos juntos”, garantiu o cantor.

“Zezé Di Camargo e Luciano é a minha vida. A gente sempre fala que é uma instituição. Zezé Di Camargo & Luciano não pertence mais a Zezé Di Camargo e Luciano, pertence aos nossos fãs”, analisou.

Ao longo do bate-papo, o cantor ainda:

  • explicou o motivo de não ter aproveitado o momento para fazer um trabalho autoral;
  • falou sobre o processo de cuidado com a voz ao longo da pandemia;
  • e ainda deu detalhes sobre o projeto da dupla sertaneja, que inclui uma canção em parceria com Marília Mendonça.

O cantor já havia revelado que daria todo o material da música para dona Ruth, mãe da cantora. Ela quem vai decidir se a faixa será ou não lançada.

“Assim que as coisas acalmarem, e quero ir lá primeiro pra conhecer, dar um abraço nela, e entregar pra ela todo material. ‘O que você quer fazer com isso aqui? Quer que eu lance? Vou lançar. Quer que deixe guardado?’. Respeito total a vontade dela. Mesmo porque, eu falei, naquela época, lançar uma música com a Marília, logo depois que ela faleceu, pra mim, seria muito sórdido. Não quero fazer isso jamais.”

“Agora se ela [Ruth] achar que é bacana lançar, que é legal pra ela, os fãs dela gostarem da ideia, aí eu lanço.”

A gravação que marca a parceria de Marília com Zezé e Luciano é a de “Você não é mais assim”, uma composição de César Augusto. O registro é um entre as cinco de um projeto em que os irmãos convocaram alguns artistas para regravar faixas da dupla.

Com a dedicação de Zezé e Luciano em seus projetos solos, o de parcerias segue sem data de lançamento. “Senão fica muita coisa junta”, explica o cantor.

Veja mais trechos da entrevista com Zezé Di Camargo:

g1 – Vou começar pela pergunta que mais me fazem, atualmente, sobre a dupla: afinal, Zezé Di Camargo e Luciano separaram ou ainda estão juntos?


Zezé Di Camargo:
 Não, estamos juntos. Zezé Di Camargo & Luciano é a minha vida. A gente sempre fala que é uma instituição. Zezé Di Camargo & Luciano não pertence mais a Zezé Di Camargo e Luciano, pertence aos nossos fãs. Mas não me impede de querer… é igual você ter uma empresa, você abre a matriz. A matriz é tal. Você não pode abrir mais uma matriz, mas você pode abrir as filiais. Eu diria que o “Zezé Di Camargo Rústico” é uma filial do Zezé Di Camargo e Luciano.

g1 – E como foi gravar solo depois de tantos anos gravando em dupla?
Zezé Di Camargo: 
Não tem uma diferença assim. Porque na verdade, quando a gente gravava, sempre eu que cuidava de tudo já. Quando gravava, não. Quando a gente grava, sou eu que cuido dos arranjos, montagem de repertório, tudo. Coloco minha voz e depois o Luciano vem e coloca a dele. Nessa parte é tranquilo porque eu sempre fiz essa sozinho. E ele sempre fez questão disso também, o Luciano.

Eu acho que vou sentir mais falta no palco, a hora que você vai cantar, vira pro lado ali, tá sempre o irmão. Mas eu acho que também só nos primeiros shows. Claro que vai fazer diferença, porque é uma vida juntos, mas tranquilo.

Quando vem pra somar e que eu esteja feliz fazendo, e ele também esteja feliz fazendo a parte dele, que ele gosta, acho que não há razão pra gente achar ruim. A gente tem que agradecer a Deus por nos dar competência de poder fazer tanta coisa boa.

g1 – Vi que o disco tem vários compositores que são assíduos no universitário, no feminejo, como o Henrique Casttro, o Maykow Melo e o Bruno Mandioca. Como foi gravar músicas dessa turma da nova geração, já que é um projeto mais ‘rústico’, que mostra sua raiz?


Zezé Di Camargo: 
O compositor, na verdade, o importante foi o que ele compôs. O movimento pra eu fazer esse disco nasceu em Goiânia. O estúdio é de lá, o produtor é de lá, que é o Felipe Duram, o escritório do Emanoel, que é meu empresário no projeto, é de lá, eu convivendo com todo mundo… Então quando eles [compositores] ficaram sabendo, ‘ah, o Zezé vai fazer um assim, quero mostrar música pro Zezé’. A maioria tinha muita vontade de gravar com a gente. Vamos ouvir, poxa.

Aí eles trouxeram e eu falei: ‘traz aquilo que vocês acham que a galera não vai gravar hoje. Coisas que vocês fazem, coisas que vocês não iam gravar, e às vezes nem mostram pras pessoas, porque acham que elas não vão gravar’.

Aí eles trouxeram. As músicas são maravilhosas, poderia ter sido feita por mim, por um cantor romântico como Roberto Carlos, Peninha…

Claro que eles fazem muita coisa comercial do momento, que o mercado exige, mas também fazem as coisas com mais sentimento, como é “Banalizaram”, músicas com mais conteúdo. É o mercado que dita essas regras, essas normas.

E como eu nunca vou pro lado que está todo mundo indo, eu gosto muito de fazer essa coisa diferente do que está surgindo.

g1 – Você acabou de falar que as músicas poderiam ser feitas por você. Por que não aproveitar o projeto solo pra fazer um álbum totalmente autoral, só de composições suas?
Zezé Di Camargo: 
Também. A ideia, de repente, no próximo, é fazer isso. A minha preocupação era muito grande agora de mostrar algo que talvez esteja fora de moda do mercado, esse tipo de música — voltei lá atrás, nos anos 1990 –, firmar isso. O próximo projeto de repente, pode ser.

Há na minha cabeça há muito tempo fazer um projeto autoral. Mas eu acho que vai ter a hora certa pra tudo. Isso culminou agora com a música nova, o projeto novo com a minissérie da Netflix, o momento meu lá na fazenda, veio muita coisa junto. Colocar, sei lá, um Zezé Di Camargo autoral, talvez seria pisar mais no fundo.

Não sei, não pensei nisso também. Não estou dizendo que não fiz por isso, que calculei isso. Não. Eu fui ouvindo as músicas, fui gostando e falei: ‘vou gravar essa, vou gravar essa’, e o compositor Zezé Di Camargo acabou ficando de fora. Mas como vou reviver algumas lá de trás pro DVD, então vai ter coisa de Zezé Di Camargo como compositor.

g1 – Você, ainda durante a pandemia, teve a “fuga” ali pra fazenda e aproveitou para cuidar da voz. Queria que você falasse um pouco desse momento, desse processo de cuidado com a voz. O que você fez e como você está se sentindo agora pra cantar?
Zezé Di Camargo: 
Leve, leve. Totalmente leve. Vão notar aí na hora que eu cantar.

Acho que era algo necessário. Mas eu não tinha tentado pra isso. ‘O que você precisa? Para, cara, dá um tempo pra você. Pensa no que você vai fazer agora. Vai por outro caminho’.

Acho que isso tudo me ajudou muito. Foi tudo meio que involuntariamente. Nada foi premeditado. A pandemia veio e te impôs as situações. Você não esperava nada daquilo. Mas me fez um bem danado. Agora, vendo aquilo, eu tô tomando como experiência: ‘peraí, o caminho que eu tenho que seguir, na vida, como um todo, é esse’.

Fonte: g1

Foto: Fábio Tito/g1/