Os insistentes apelos do presidente Volodymyr Zelensky para que as nações ocidentais “fechem os céus” da Ucrânia não ressoam nos ouvidos de líderes empenhados em ajudar o país a enfrentar a agressão russa. A tão propalada zona de exclusão aérea é descartada com veemência por uma simples razão: seria interpretada como uma declaração de guerra à Rússia e deflagraria um confronto direto entre o país e a OTAN – tudo que os países integrantes da aliança tentam evitar no momento.

Zonas de exclusão aérea são regiões estabelecidas em que as aeronaves são impedidas de voar. No campo militar, funcionam para vigiar e impossibilitar ataques do agressor e, em caso de violações, a ordem inclui o abate da aeronave que entra na área restrita. E implicam uma mudança de patamar no conflito, que atualmente se restringe a Rússia e Ucrânia.

Elas foram implementadas anteriormente, na Guerra da Bósnia, na década 1990, na Guerra do Golfo, em 1991 e na Líbia, em 2011, basicamente para proteger civis aos ataques de regimes totalitários.

Foi em Brasília, onde se encontrava em viagem oficial, que o então presidente americano Barack Obama anunciou o início da operação “Odisseia do Amanhecer” contra as forças do ditador Muammar Kadafi e o início de uma zona de exclusão aérea no território líbio.

“Não podemos ficar quietos quando um tirano diz a seu povo que não terá piedade”, justificou Obama.

Por que é diferente na Ucrânia? Nas três situações anteriores, os EUA e seus aliados enfrentaram forças militares inferiores. Agora o agressor é a Rússia, país detentor do maior arsenal nuclear do mundo – seis mil ogivas nucleares, segundo a Janes, agência que fornece análises da área de defesa. E seu comandante, o presidente Vladimir Putin, que não sinaliza qualquer disposição para obedecer a uma suposta ordem de proibição para realizar ataques aéreos na Ucrânia.

Como explicou o general reformado Philip Breedlove, ex-comandante da OTAN, à “Foreign Policy”, impor uma zona de exclusão aérea significa estar disposto a usar a força contra aqueles que a violarem, ou seja, é também um ato de guerra.

E há outro agravante, no seu entender: seria necessário mandar aeronaves da coalizão para essa região a fim de bombardear radares inimigos e sistemas de mísseis que possam disparar do outro lado da fronteira. Esta opção não está na mesa do presidente Joe Biden, do premiê Boris Johnson e de outros parceiros da aliança: um confronto direto com a Rússia, definitivamente, é um pesadelo que não pretendem encarar.

Fonte: g1

Foto: Maksim Levin/Reuters