Moscou (AE) – A Rússia disse nessa quarta-feira (9) ter visto progresso nas negociações com a Ucrânia, duas semanas depois do início da invasão ao país. Em meio a conversas intermediadas pelos governos de Belarus e Turquia, os chanceleres russo, Serguei Lavrov, e ucraniano, Dmitro Kuleba, devem se reunir hoje para discutir novos passos para o fim do confronto.

A reunião ocorre depois de o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ter exigido, na segunda-feira, a neutralidade da Ucrânia com relação à Otan e o reconhecimento da anexação russa de regiões separatistas como condições para um acordo. Na terça-feira, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, deu indícios de que aceitaria negociar essas questões.
As conversas ocorrem em meio ao aumento das sanções contra Moscou. Na terça-feira, os EUA suspenderam a compra do petróleo russo. A União Europeia planeja restringir a importação de gás. Na semana passada, os aliados ocidentais congelaram os ativos do Banco Central russo em moeda forte, precipitando uma grave crise econômica.
Avanços“Paralelamente à operação militar especial (nome dado por Moscou à guerra na Ucrânia), também estão acontecendo negociações com os ucranianos para acabar o quanto antes com o banho de sangue sem sentido e a resistência das Forças Armadas da Ucrânia. Alguns progressos foram feitos”, afirmou a porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova.
De acordo com ela, os objetivos da Rússia não incluem a ocupação da Ucrânia, a destruição de seu Estado ou a troca de regime. Zakharova reiterou ainda que a ação não tem como alvo a população civil, embora centenas de mortes de civis já tenham sido reportadas.
Apesar de a Rússia já ter dito antes que não pretende derrubar Zelenski, a declaração do Kremlin destoa do começo da guerra, deflagrada na madrugada de 24 de fevereiro pelo presidente Vladimir Putin com objetivo declarado de “desnazificar” a Ucrânia, em meio a acusações russas de que o governo de Zelenski tinha associações com grupos neonazistas.
Putin também chamou o líder ucraniano de “drogado”. Zelenski vem afirmando, desde o começo do conflito, que ele é o alvo número 1 do Kremlin e pode ser morto a qualquer momento.
Nessa quarta, Zakharova garantiu que a guerra na Ucrânia tem saído conforme o planejado, contrariando agências de inteligência e analistas ocidentais que apontam que os russos têm enfrentado uma dificuldade maior do que o previsto.
ReuniãoLavrov e Kuleba terão hoje a primeira conversa presencial desde que a Rússia invadiu a Ucrânia. O chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, deve participar do encontro. Membro da Otan, a Turquia tem boas relações com os dois países e divide com eles as águas do Mar Negro.
O governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, classificou a invasão russa na Ucrânia como inaceitável, embora se oponha às sanções contra Moscou. “Esperamos que essa reunião seja um ponto de virada e um passo importante para a paz e a estabilidade”, disse Cavusoglu, acrescentando que ambos os chanceleres pediram que ele mediasse as negociações.
Kuleba garantiu nessa quarta-feira, em um vídeo postado no Facebook, que faria de tudo para que as conversas com a Rússia fossem as mais produtivas possíveis. “Tudo vai depender das instruções que Lavrov recebeu antes das negociações”, completou o chanceler ucraniano. 
Chernobyl A usina nuclear de Chernobyl foi desconectada da rede elétrica da Ucrânia pelas forças russas, segundo a operadora estatal Ukrenergo, que cuida das centrais nucleares ucranianas. A ação coloca em risco o resfriamento do material nuclear ainda armazenado no local, o que poderia levar ao vazamento de radiação. Apesar disso, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirma que a situação está sob controle – por enquanto. 
Dmitro Kuleba exigiu nessa quarta-feira um cessar-fogo da Rússia para permitir reparos na usina. A eletricidade de Chernobyl é necessária para os sistemas de refrigeração, ventilação e extinção de incêndio. Em comunicado em sua página no Facebook, a Ukrenergo também disse que os geradores a diesel de emergência foram ligados, mas que o combustível duraria apenas 48 horas.
Ataque atinge hospital infantil e maternidade em MariupolMariupol, Ucrânia (AE) – A Rússia intensificou nessa quarta-feira (9) seu ataque a Mariupol, cidade estratégica no Mar de Azov – única que ainda resiste à ofensiva militar no litoral oeste da Ucrânia Um bombardeio atingiu o hospital pediátrico e a maternidade, deixando 17 pessoas feridas, segundo o governo ucraniano. Ao menos um edifício do complexo hospitalar foi destruído.
Vídeos do ataque obtidos pelo New York Times, que circularam nas redes sociais, mostram dezenas de pessoas sendo retiradas do local. Não há detalhes sobre número de mortos. Também não ficou claro se a unidade estava em pleno funcionamento no momento do ataque ou se havia sido esvaziada antes.A cidade de Mariupol faz parte de um trecho vital que liga os enclaves separatistas de Donetsk e Luhansk com a Crimeia, a península anexada em 2014. A cidade vive um cerco ferrenho das tropas russas. Na terça-feira, autoridades ucranianas abriram um corredor humanitário para retirar civis, mas não conseguiram – eles acusam a Rússia de não permitir a passagem da população.
O ataque dessa quarta foi outro exemplo da tática de cerco da Rússia que visa destruir a infraestrutura civil nas cidades ucranianas. Mariupol foi alvo de ataques que inutilizaram o fornecimento de água, luz e comida. Segundo o prefeito da cidade, Vadim Boichenko, os corpos começaram a ser enterrados em valas comuns, porque os necrotérios estão lotados.
O governo ucraniano culpou a Rússia pelo ataque ao hospital. Testemunhas e uma agência de notícias local disseram que bombas foram lançadas por aviões russos. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, escreveu no Twitter que havia “crianças sob os destroços” e chamou o bombardeio de “atrocidade”.
A Casa Branca denunciou nessa quarta o “uso bárbaro da força” contra civis em Mariupol. “É terrível ver o uso bárbaro da força militar contra civis inocentes em um país soberano”, disse a porta-voz do governo americano, Jen Psaki.
O ataque ocorreu em meio a esperança de retiradas em massa de civis de várias cidades ucranianas sitiadas, incluindo Mariupol. “Há poucas coisas mais depravadas do que visar os vulneráveis e indefesos”, tuitou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, acrescentando que o presidente russo, Vladimir Putin, será responsabilizado “pelos crimes terríveis”.
As explosões no hospital espalharam estilhaços das janelas de vários prédios. Imagens de vídeo mostram uma cratera em um pátio com mais de 3 metros de profundidade. Testemunhas e informações de código aberto do Wikimapia identificaram os edifícios como uma clínica infantil, um departamento de oftalmologia e uma maternidade. “Aviões atacaram a maternidade. Esses são os russos”, afirma o homem que filmou um dos vídeos.

Fonte: Tribuna do Norte

Foto: Evgeniy Maloletka/ap/estadão conteúdo