Em Natal, o presidente Nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirma não acreditar na viabilidade de uma terceira via na disputa presidencial. Em entrevista exclusiva à Tribuna do Norte e Jovem Pan News Natal ele afirma: a eleição está polarizada, ela seguirá polarizada e a disputa é Lula e Bolsonaro”. Sobre as alianças estaduais, ele garante que os diretórios terão autonomia. Ele fala sobre possível apoio à Fátima Bezerra e confirma que o partido fez convite ao ex-deputado Henrique Alves (PMDB) para ingressar na legenda. Confira trechos da entrevista.

Começo lhe perguntando sobre as dificuldades. Hoje, o PSB tem pré-candidatos a governador em estados onde o o PT também tem.  Então ficam esses conflitos nos estados? Como serão administrados?Veja, a nossa aliança nacional está clara, está definida e é com o presidente Lula e o PT e, inclusive ontem (quinta-feira, 23), tivemos o prazer de receber para as nossas fileiras o ex-governador Geraldo Alckmin na perspectiva de que ele venha a ser o candidato a vice-presidência da República na chapa de Lula. Isso é uma coisa, isso é uma aliança nacional. Nos estados, inclusive, muitos deles, estados importantes como São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, nós temos candidatos. Ou seja, em nove Estados nós temos candidatos, e em alguns deles o PT também tem seus candidatos e, por isso mesmo, nós não quisemos entrar na federação, entre outros motivos. Porque o nosso partido é  de médio pra cima, então, primeiro, não há necessidade de entrar na federação e, segundo, nós temos projeto próprio. Nós temos vários candidatos em cidades importantes em que o PT também tem. Então, se houver acordo, ótimo, se não houver, nós disputamos as eleições e quem for para o segundo turno, apoia o outro e, assim, a vida segue. Isso é parte da democracia. Não se pode tirar de um partido o direito de decidir o seu destino e nós nunca abriremos mão disso. Por isso, mesmo estamos sem federação. Estamos aqui pra disputar aonde for necessário e nos esforçar pra que possamos ser vitoriosos.
A executiva nacional vai dar autonomia aos diretores  estaduais a tomarem essas decisões? Sim, sim. Aqui por exemplo no Rio Grande do Norte nós temos o Rafael Motta, deputado federal, que é presidente estadual do nosso partido e ele tem carta branca aqui pra decidir a sua chapa de deputado federal, deputados estaduais e também pra definir a aliança que deve ser feita. Aqui tudo indica que será com a governadora Fátima Bezerra. 
O senhor já entrou aqui no cenário local e eu já vou lhe indagar. Já houve um convite do PSB para ingresso do ex-deputado Henrique Alves na legenda?O deputado Henrique Alves, ex-presidente da Câmara dos Deputados, é um amigo nosso, uma pessoa que tem ótimas relações com o PSB nacional e local também. Então, se ele desejar entrar no nosso partido ele será bem-vindo. 
Houve o convite? Houve.
Então é aguardado aí uma resposta? Isso. Ele deve ter sido convidado por vários partidos. Ele vai decidir tranquilamente até o dia dois, o caminho dele. Se é que ele vai sair do partido dele mesmo. 
O Geraldo Alckmin assinou a ficha de filiação ontem. Qual o papel que Geraldo vai ter na campanha presidencial?Veja o governador Geraldo Alckmin é uma personalidade da política nacional que já foi candidato à presidência da República, já foi governador quatro vezes do principal estado, do maior e mais rico estado da federação. É um homem muito experiente, muito correto, de honradez ímpar, na política. É um nome muito bom e, também, um homem mais ao centro do espectro político. Acho que ele cumpre um papel importante no sentido de alargar o espectro político e ideológico da chapa de Lula. Mas ele, a partir de ontem (quarta-feira) faz parte de um partido que é aliado do PT durante várias eleições e que também tem várias ideias programáticas pra sugerir a essa campanha do Lula. Não é uma questão exclusivamente eleitoral, porque a eleição não pode ser um fim em si mesma. Nós queremos, além de dar uma contribuição eleitoral e política, também dar uma contribuição programática, sugerindo várias políticas que o programa do candidato do PT possa incorporar para que nós nos sintamos efetivamente nessa chapa e, nesse sentido, eu acho que o governador Alckmin também poderá ser muito útil ao PSB e, principalmente, ao Brasil, no momento em que precisa dar essa virada de página e tirar o senhor Jair Bolsonaro da presidência da República porque as suas políticas são desastrosas, do ponto de vista econômico. Você veja que não se contém o controle de preço, a inflação está praticamente fora de controle, os combustíveis estão nas alturas, os alimentos nem se fala e o País não voltou a crescer, não voltou a criar emprego, portanto é um fracasso. O que é muito grave também é que ele significa uma ameaça à democracia, que nós não queremos perder, pelo contrário, queremos restabelecer a plenitude democrática e acho que, nesse sentido, uma frente ampla, que é o que o Partido Socialista prega, comporta muito bem Geraldo Alckmin e muito mais pessoas que possam contribuir. Nesse sentido, ele é um nome que atrai pessoas, nesse aspecto político, e alarga os horizontes da campanha presidencial de dois mil e vinte e dois.
Que outras legendas podem ingressar nessa frente ampla a partir da candidatura do ex-presidente Lula e com a chegada de Geraldo Alckmin ao PSB?Eu não sei se legendas porque, na verdade, nós vivemos o sistema político extremamente desgastado, deslegitimado que, aliás, a própria eleição de Jair Bolsonaro é resultado disso, da falência de um sistema, que precisa ser completamente recuperado. Precisa uma reforma profunda em que se estabeleça uma cláusula de desempenho suficiente pra deixar quatro ou cinco partidos no cenário político claramente bem definidos, politicamente, programaticamente, pra que o eleitorado possa legitimar esse sistema. Sistema político atual com trinta e três partidos legalizados no país é uma balbúrdia política.
E eles perderam totalmente o sentido. A gente ver essa janela partidária que está aberta, o troca-troca…Temos que fazer algo sério. A democracia é um sistema de partidos e pra que ela continue viva e se desenvolvendo, se aperfeiçoando, permanentemente, que é o que deve ser um sistema democrático, ele precisa de partidos legítimos. Legitimados por quem? Pela população, pelo voto, pelo eleitor. Isso que nós desejamos, e é isso que também nós vamos propor ao senhor Lula da Silva, como candidato à presidência da República, que não pode passar novamente na presidência sem ter feito uma reforma política muito profunda no país pra que se possa reavivar a democracia e aperfeiçoá-la permanentemente. 
O senhor acredita que há uma possibilidade de união desses partidos que dizem que vão lançar uma candidatura de terceira via?Candidatos de terceira via têm muitos, mas a verdade é que esses partidos de terceira via têm dois problemas. O primeiro é que nenhum deles tem um líder que seja conhecido nacionalmente e que tenha raízes eleitorais e populares no país, nenhum deles. São nomes muito locais, pega o Moro, é do Paraná, pega o Dória, é muito paulista, assim mesmo muito desgastado também no seu próprio estado e assim vai, se sugerirem outros também não serão líderes. É válido que numa democracia tenha  vários candidatos, mas eu não acredito em absoluto na viabilidade  de terceira via. A eleição está polarizada, ela seguirá polarizada e a disputa é Lula e Bolsonaro. E aí o eleitor vai ter que decidir a partir desses dois, esse aqui é o ponto. Isso não é pra se festejar, porque seria ideal que houvesse mais líderes. Nós precisamos formar novos líderes, mas líderes não se formam em laboratório, se formam num embate político. Nós inclusive estamos valorizando isso no nosso partido, dando oportunidade a jovens que possam ingressar na política pra que formem futuros líderes e uma elite política capaz de merecer esse nome que é o que nos falta. 
Ciro Gomes chamou de conchavo vergonhoso o ingresso de Alckmin no PSB para compor  chapa com Lula. O que o senhor diria a respeito dessa declaração do pré-candidato Ciro Gomes que está querendo se apresentar como a terceira via?Acho que o Ciro está completamente equivocado. Eu gosto do Ciro, acho que ele é um candidato excelente. Mas a candidatura dele está fora de lugar, porque o momento está exigindo a união de forças políticas em torno de um candidato que tenha melhores condições de derrotar Bolsonaro. E não é ele. Infelizmente. Eu gostaria até que fosse, mas não é. Portanto, acho que ele está equivocado, tenho muito respeito por ele. Acho que o programa dele, inclusive, é muito bom, mas no momento a pessoa que reúne melhores condições é o Luiz Inácio da Silva e além disso, não há nada de conchavo, o que há é necessidade da formação de uma frente ampla com diferentes setores políticos e ideológicos juntos, no sentido de restabelecer a democracia e criar um programa capaz de recuperar a economia do País, recuperar o emprego e controlar a inflação, que está quase fora de controle. Isso é questão necessária. Então, não sonho sem base, sem os pés no chão, sem base na realidade.
O senhor fala em restabelecer a democracia, porque essa declaração nesse aspecto?Restabelecer a plenitude democrática. A democracia é um sistema que está doente, digamos assim. A eleição de Bolsonaro já refletiu essa enfermidade da democracia brasileira. Ela precisa ser restabelecida na sua plenitude, porque ela está se esgotando. A democracia não pode resistir a um sistema político carcomido como tem o Brasil. Ou ele refaz o seu sistema político. Legitima no voto ou ela não se sustenta.  Democracia não não é uma palavra oca, a democracia tem que ter fundamento, tem que ter legitimidade e a legitimidade não se dá só na eleição, ela se dá também no governo, o governo que quem ganha eleição, sobretudo para o executivo, tem que legitimar o seu governo permanentemente. Observem que a Dilma Rousseff quando foi eleita ela quando tomou posse no segundo mandato, já ninguém a respeitava, ela falava e já não tinha autoridade da presidência, porque perdeu a legitimidade,  apesar de ter ganho a eleição.  Então foi um negócio impressionante, por isso que há impeachment, porque um governante sem legitimidade não se sustenta.
Alckmin na filiação dele, a mensagem que ele passou é que Lula é o filho da democracia?Todos nós somos filhos da democracia, porque todos surgirmos nesse sistema, felizmente. Democracia produz líderes de todo tipo, de toda natureza. O importante é que a gente não tenha apenas um líder, que nós tenhamos vários líderes de diferentes ideologias e com diferentes visões sobre o país e sobre o mundo. Infelizmente nós estamos reduzidos a dois líderes, um mais à esquerda, outro mais àa extrema direita e isso significa também a pobreza da democracia brasileira. 
Mas o eleitorado vai ter que enfrentar?Vamos ter que enfrentar,  porque é o que nós temos, política  se faz com a realidade também. Por isso se faz apenas com os sonhos. Os sonhos são muito importante pra nos empurrar pra, pra frente na luta. Mas não é não é só ele. Tem que dizer, o hoje o que que eu faço pra alcançar aquele objetivo que está lá na frente.
Como presidente nacional de uma legenda importante, como é o PSB, o senhor acompanha essas denúncias que envolvem hoje o Ministério da Educação? Eu acho que todo tipo de denúncia relativa à corrupção deve ser apurada pelos órgãos próprios, Ministério Público, Polícia Federal e depois o julgamento na Justiça, desde que dê aos acusados o amplo direito de defesa e o respeito o devido processo legal, acho que deve ser apurado rigorosamente. Eu não sei exatamente, eu sou um tipo que eu não tenho muita habilidade pra investigar ninguém, senão seria juíza ou seria promotor ou delegado e eu tenho a horror a essas profissões, embora respeite muito.  Tenho horror se fosse pra mim, explico-me. Então, eu acho que isso deve ser apurado por esses agentes públicos, que têm essa função e deve ser apurado com muito rigor. Mas eu também não gosto de fazer acusações, se há denúncia, apure-se e quem tem que apurar não sou eu, só sei fazer política. Quem sabe apurar são os delegados, são os promotores e fazem muito bem isso. E devem fazer.
O senhor mencionou que a intenção do partido é colaborar com o programa de governo, no programa do PT há um item que é revogar a reforma trabalhista. O senhor concorda? Eu sinceramente não sei se é o caso exatamente da revogação, eu acho que a reforma trabalhista feita no governo do Temer e que foi inclusive relatada por um potiguar, que em função de ser tão ruim a reforma, não foi reeleito, que foi o senhor Rogério Marinho, e foi um desastre. O que dizia o Meirelles? Vamos fazer a reforma trabalhista pra criar quatro milhões de empregos. Naquele tempo, então tínhamos 11 milhões de desempregados e hoje temos 15 milhões de desempregados. Então, precarizou o trabalho com uma promessa falsa e aconteceu exatamente o inverso com o país. Não é precarizando o trabalho que se cria emprego. Criar emprego não tem segredo. Só se cria emprego se tiver investimento público e num país como o Brasil tem que ter muito investimento público, muito investimento privado, segurança jurídica e atrair bons investimentos. Uma visão de desenvolvimento que possa ser desenvolvimentista, o que está acontecendo é uma política é retração. As políticas ultraliberais no Brasil, elas só criam econômica e não desenvolvimento econômico. Então, precarizaram o trabalho e criaram mais desemprego. Então eu não posso defender uma coisa dessa. Isso é uma porcaria. Eu acho que o senhor Rogério Marinho prestou um desserviço ao país e aos trabalhadores ao fazer isso e recebeu de volta o seu o retorno muito bem dado pelos eleitores que estão de parabéns, inclusive por ter feito isso. 
E agora Rogério (Ministro das Comunicação) é pré candidato ao senado pelo Rio Grande do Norte?É, vamos ver o que diz o eleitor. O eleitor é o grande julgador dos homens públicos. Então, eu não julgo o senhor Rogério Marinho, mas acho que os eleitores deverão fazer esse julgamento, que é o juiz dos políticos. 
Quais as estratégias que o PSB está traçando para manter essa vaga que tem hoje na Câmara Federal, já que a disputa do federal aqui é bastante acirrada e  qual a projeção que o partido faz de crescimento da sua bancada? Há 20  anos nós decidimos não fazer coligação proporcional. Na eleição de 2002, e fizemos 5,4% dos votos em todo o país, quando  a possível cláusula de desempenho ou cláusula de barreira como se diz, era de 5%, que lamentavelmente o Supremo derrubou. Então, agora 20 anos depois o nosso partido é bem mais forte, nós temos hoje quatro governadores, elegemos 32 deputados federais na eleição anterior e provavelmente elegeremos mais nessa eleição. Apesar de não ter entrado em nenhuma federação, aqui no Rio Grande do Norte essa tarefa está com o deputado federal Rafael Motta, que tem feito isso e desempenhado muito bem e vocês certamente vão se surpreender com o resultado que nós vamos ter aqui e ele seguramente será reeleito, isso eu tenho certeza.
Quais os principais nomes dessa nominada do PSB que o deputado Rafael Mota apresenta ao senhor?Nessa fase dessa composição, não é muito razoável fazer a divulgação desse nome não. Lá no dia do registro vocês vão saber.
Mas, então o senhor acredita que o o partido continua com a com a cadeira aqui na bancada do Rio Grande do Norte? Não tenho a menor dúvida. Pode ampliar. É só esperar. Nós agradecemos muito obrigado e parabéns ao grupo da Tribuna que hoje faz 72 anos, um longo período aqui na imprensa potiguar.

Fonte: Tribuna do Norte

Foto: Adriano Abreu