Depois de muitas idas e vindas, o grupo conhecido como terceira via na disputa eleitoral decidiu lançar um único candidato à sucessão do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em reunião realizada ontem, em Brasília, dirigentes do MDB, PSDB, União Brasil e Cidadania fecharam uma aliança e anunciaram que vão divulgar o nome de quem representará o grupo na disputa ao Palácio do Planalto no dia 18 de maio.

Até agora, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) é a mais cotada para encabeçar a chapa única. O maior problema ocorre nas fileiras do PSDB porque o ex-governador de São Paulo João Doria, vencedor das prévias do partido, está emparedado pela movimentação do correligionário Eduardo Leite. Ex-governador do Rio Grande do Sul, Leite tenta avançar algumas casas no jogo e até admite ser vice em dobradinha com Tebet.
Os dois conversaram ontem no Senado, onde posaram para fotos. Após o encontro, disseram que só uma candidatura única é capaz de furar a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, favorito nas pesquisas de intenção de voto.
“O meu partido fez prévias, tem o seu pré-candidato estabelecido Nós respeitamos isso, ninguém está deslegitimando as prévias, mas não se trata aqui apenas de atender a formalidades e, sim, de ajudar o País a encontrar um caminho”, afirmou Leite.
Tebet mudou um pouco o discurso. Antes de se reunir com o gaúcho, dizia que o vencedor das prévias do PSDB era Doria. “O Eduardo está dizendo que respeita as prévias, mas vem como um soldado. E por trás dele vêm outros soldados”, disse ela. “Estou esperançosa”.
Embora o nome de Tebet seja cotado para encabeçar a chapa, 13 líderes de diretórios do MDB, principalmente no Nordeste, querem apoiar Lula no 1.º turno. “Qualquer candidatura, para sobreviver, precisará ser competitiva, senão rebaixa os palanques estaduais e se torna desnecessária. O MDB já conhece esse filme”, disse o senador Renan Calheiros (MDB-AL), um dos líderes do movimento pró-Lula no partido.
Em um dia marcado por articulações políticas, Doria e o presidenciável do PDT, Ciro Gomes – que também estavam em Brasília -, tiveram uma série de conversas reservadas, em busca de parcerias. Ciro almoçou com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com seu irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE). Pediu apoio, mas o presidente do PSD, Gilberto Kassab, ainda diz que lançará candidato próprio. Nem o PSD nem o PDT fazem parte do grupo da terceira via, que se autointitula “centro democrático”.
Nenhum dos pré-candidatos participou da reunião de cúpula dos partidos. Em comunicado emitido após o acordo, MDB, PSDB, União Brasil e Cidadania destacaram que o objetivo da aliança é apresentar um candidato como alternativa aos polos que atualmente dominam a disputa. “Conclamamos outras forças políticas democráticas para que possam se incorporar a esse projeto em defesa do Brasil e de todos os brasileiros”, diz o comunicado. O texto é assinado pelo presidente do União Brasil, Luciano Bivar; do MDB, Baleia Rossi; do PSDB, Bruno Araújo; e do Cidadania, Roberto Freire.
O União Brasil informou que apresentará um pré-candidato a ser submetido à análise do grupo no próximo dia 14. O ex-juiz Sérgio Moro se filiou recentemente ao União, após sair do Podemos. Presidido pelo deputado Luciano Bivar, o União diz, no entanto, que o projeto para Moro será em São Paulo, provavelmente disputando uma vaga na Câmara. As divergências de Moro com dirigentes de seu novo partido – principalmente com ACM Neto, que é candidato ao governo da Bahia – ficaram nítidas na semana passada, quando ele afirmou que não será candidato a deputado federal.
O próprio Bivar tem interesse em integrar a chapa presidencial, mas seu nome sempre é citado como vice. Ontem, ele negou que a inclusão de um indicado pelo partido nas próximas conversas sobre candidatura única dificultará a construção de um consenso. “O maior mentor de criar esse consenso fomos nós.”
Bivar afirmou ainda que a escolha do candidato do grupo levará em conta vários critérios, e não apenas as pesquisas de intenção de voto. “Pesquisas são fotografias de momento. Precisa ver a capilaridade, o Fundo Partidário, a receptividade, a rejeição. Tudo isso vai ser considerado, prevalecendo um sistema de bom senso político”, disse ele.
Bolsonaro cresce 4 pontos após saída de MoroA primeira pesquisa XP/Ipespe de intenção de votos para a Presidência sem Sérgio Moro (União Brasil) entre os possíveis concorrentes, divulgada ontem, aponta que o porcentual de intenções de votos do ex-juiz (9%, em março) foi redistribuído entre o presidente Jair Bolsonaro (PL), o maior beneficiado, Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve o patamar do levantamento anterior.
Segundo a pesquisa, Lula mantém a liderança com 44% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, com 30%, Ciro com 9%, Doria com 3% e Simone Tebet, com 2%.
Em relação à pesquisa anterior, divulgada em 25 de março com Moro entre os concorrentes, Bolsonaro subiu quatro pontos, de 26% para 30% – seu melhor desempenho registrado pelo instituto. 
Os demais oscilaram dentro da margem de erro, de 3,2 pontos porcentuais para mais e para menos. Ciro foi de 7% para 9%; João Doria, de 2% para 3%; e Simone de 1% para 2%. Indecisos e os que pensam em votar nulo ou branco também oscilaram positivamente, de 9% para 12%.
CampoPara o cientista político José Álvaro Moisés, a redistribuição das intenções de votos do ex-juiz para Ciro e Doria não gera um impacto capaz de recolocar a possibilidade eleitoral destes pré-candidatos. Já no caso de Bolsonaro, segundo Moisés, o aumento é mais nítido e representaria o contingente de eleitores que apoiavam o presidente, mas estavam descontentes com seu governo e viram em Moro uma saída.
“Desde o início os eleitores do Moro eram eleitores que provavelmente votaram no Bolsonaro em 2018 e, agora, com uma visão crítica, estavam mudando de posição, mas não mudando o campo político ideológico ao qual eles pertencem”, disse. “O que os dados estão mostrando é que a migração mais importante ocorre dentro do próprio campo da direita”, completou.
A cientista política Graziella Testa, professora da Fundação Getulio Vargas, entende que o crescimento de Bolsonaro não deve ter como única causa a saída de Moro da disputa. Segundo ela, a instituição do Auxílio Brasil e a melhora dos dados da pandemia ajudam no aumento da aprovação ao governo entre os mais pobres, que mudam o jeito como enxergam a sua realidade.
Ainda assim, ela entende que a saída de Moro fortalece a candidatura de Bolsonaro, primeiro por ser uma competição no campo da direita, depois pelo fato de o ex-juiz ser um ex-apoiador do presidente. “A presença de Moro em 2018 foi um fator que não pode ser desconsiderado. Isso pode significar que uma parte do eleitorado que apoia Moro não desgosta de Bolsonaro”.
EspontâneaNo cenário espontâneo, em que o entrevistado expressa sua preferência sem que seja apresentada uma lista de opções, o ex-presidente Lula continua liderando com 36%. Já Bolsonaro cresceu, e agora tem 27%, melhor resultado na série histórica iniciada em 2020. 
No segundo turno, o petista vence o atual chefe do Executivo com vantagem de 20 pontos, com 53% contra 33%. A distância, contudo, é menor do que há dez dias, quando era de 23 pontos.
O Ipespe ouviu mil eleitores entre os dias 2 e 5 de abril. A margem de erro do levantamento é de 3,2 pontos porcentuais, para mais ou para menos, e o código do registro na Justiça Eleitoral é BR-03874/2022.
Simone Tebet devolve aceno a Eduardo LeiteA pré-candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet, devolveu acenos ao ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) e alimentou a expectativa de ter o gaúcho como vice em uma chapa na campanha presidencial.
A aliança foi discutida entre os dois durante um encontro no gabinete de Tebet, no Senado, nesta quarta-feira, 6, no mesmo dia que o grupo formado por MDB, União Brasil, PSDB e Cidadania anunciaram a intenção de lançar um candidato único ao Planalto em maio.
Na segunda-feira, 4, em entrevista à rádio Eldorado, Eduardo Leite sinalizou que pode ser vice na chapa de Simone Tebet. Em entrevista ao Broadcast Político na terça-feira, a parlamentar disse ter sido surpreendida positivamente com o aceno e se colocou como a opção mais viável para o grupo.
Nos bastidores, a campanha de Tebet aponta Leite como o melhor vice para compor uma chapa com a senadora, em um cenário em que João Doria (PSDB) não disputaria mais o cargo. O ex-governador paulista, porém, insiste em disputar o Palácio do Planalto. 
Ao lado da senadora, Eduardo Leite voltou a reforçar que está no páreo mesmo após o resultado das prévias do PSDB. “O meu partido fez prévias, tem o seu pré-candidato estabelecido. Nós respeitamos isso, ninguém está deslegitimando as prévias, elas têm a sua legitimidade, mas não se trata aqui apenas de atender formalidades e, sim, de ajudar o País a encontrar um caminho”, afirmou.
Eduardo Leite e Simone Tebet reforçaram que só uma candidatura única na terceira via é capaz de furar a polarização entre Lula e Bolsonaro e pontuaram que o candidato será decidido pela cúpula das legendas. “O Eduardo vindo dizer ‘respeito as prévias, mas venho como um soldado’, ele simplesmente está dizendo que por trás dele vêm outros soldados. Ele tem condição de trazer uma legião de pessoas que digam de forma anônima ‘nós estamos aqui também com o propósito de dar ao Brasil esperança”, declarou a senadora. 
Pré-candidato do PDT descarta terceira via O pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, classificou a terceira via como “as viúvas do Bolsonaro”. “Não tenho nada a ver com isso”, afirmou. Ciro, junto com o PDT, está isolado de conversas com siglas do centro sobre uma possível definição de um candidato único contra a polarização Lula-Bolsonaro na corrida ao Palácio do Planalto. PSDB, União, MDB e Cidadania já iniciaram os debates sobre o tema.
“A terceira via é uma expressão preguiçosa criada por uma certa imprensa. O que se chamou de terceira via no Brasil são as viúvas do Bolsonaro e eu não tenho nada a ver com isso”, disse o pré-candidato.
A declaração foi dada à imprensa após almoço com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o senador Cid Gomes (PDT-CE) Segundo Ciro, não houve discussão sobre alianças durante o almoço.
Pacheco desistiu de se lançar como candidato à Presidência da República pelo PSD em março. O partido do Gilberto Kassab havia convidado o parlamentar, no ano passado, a disputar o cargo.
O líder do PDT no Senado, Cid Gomes deu declarações em direção diferente a de Ciro Gomes sobre a terceira via. Cid afirmou ao Broadcast Político que o irmão e pré-candidato do partido à Presidência, Ciro Gomes, aceita conversar com os partidos da chamada terceira via para uma composição em outubro. Por outro lado, o senador aponta Ciro como o único presidenciável que tem um projeto para o País além da negação ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Hoje, o maior ponto de convergência é exatamente aquilo que eu condeno, é a negação ao Lula e ao Bolsonaro”, afirmou o senador em entrevista ao Broadcast Político. “Com todo respeito, qual é o projeto da Simone do MDB? Onde conflita com o do Ciro e por que não conversamos? Qual é o projeto do União Brasil, que não nem tem candidato? Tem alguma afinidade com o que Ciro defende ou é só uma negação ao Lula e ao Bolsonaro?”
O grupo formado por MDB, União Brasil e PSDB deve anunciar a decisão de lançar um candidato único à Presidência. Por enquanto, caciques desses partidos veem Ciro fora da composição, mas o presidenciável do PDT quer avançar em uma negociação, sem abrir mão da cabeça de chapa. “O que nós temos defendido é que para além da negação ao Lula e ao Bolsonaro cada um apresente o seu projeto para o Brasil e a gente veja onde é possível negociar para não ser só o projeto da negação nem só o projeto pessoal.”
O líder do PDT afirmou que o maior desafio de Ciro será se consolidar como “campeão da segunda divisão” e atrair uma parcela de até 12% do eleitorado de Lula que quer votar no petista apenas por rejeição ao Bolsonaro. “É mais fácil para o Ciro tirar o lugar do Bolsonaro e enfrentar o Lula. O Bolsonaro é o candidato marcado para morrer.”

Fonte: Tribuna do Norte