A revitalização do bairro da Ribeira, zona Leste de Natal, deve ter início com um projeto de recuperação de fachadas e aplicação de pintura em 17 prédios históricos no entorno da Praça Augusto Severo. Para começo dos trabalhos, falta a autorização da Superintendência Estadual do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Segundo a Secretaria Municipal de Turismo (Setur), os documentos foram enviados na manhã desta quarta-feira (04) e a resposta deve sair em 45 dias. Com licitação já homologada, o investimento será de R$ 104.386,44. 

De acordo com Fernando Fernandes, titular da pasta, a previsão é de que o serviço seja completo em um prazo de seis meses após autorização do IPHAN, a depender das condições climáticas e do estado das construções. “Vamos fazer essa recuperação – deixando bem claro que não é um restauro – dentro de uma paleta de cores que também já foi pré-estabelecida pelo Instituto. Estamos obedecendo ao passado e tenho certeza que vai ser um grande atrativo turístico”.
Nesse momento inicial, o projeto prevê a recuperação e pintura das fachadas de 17 prédios, a começar pela esquina da avenida Duque de Caxias com a travessa Aureliano em um prédio pertencente à Junta Comercial do Estado (Jucern) até o prédio Mossoró. O próximo quadrante a ser trabalhado engloba os prédios a partir da esquina da rua Câmara Cascudo com a travessa Aureliano até a esquina de encontro com a rua Dr. Barata. Para finalizar, o último quadrante trata dos imóveis entre o edifício Paris e o prédio da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
Segundo Danielle Mafra, secretária executiva do município de Natal, a ação terá participação de várias secretarias lideradas pela Setur, como as pastas de Serviços Urbanos (Semsur) e Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb). “É um projeto de retomada turística, queremos mesmo voltar os olhos para mais uma oportunidade dentro da cidade do Natal. Vamos iniciar a intervenção na Ribeira como um todo por esse projeto de recuperação e pintura”.
“São prédios históricos não tombados, com exceção do edifício Paris, mas eles estão localizados em uma faixa de proteção histórica no campo central da Ribeira. Buscamos referências de projetos similares em todo o país, inclusive a equipe técnica visitou os prédios para verificar as cores de suas matrizes na tentativa de revitalizar ao máximo e preservar a história do local”, comenta Danielle.

As negociações com os proprietários já estão finalizadas, com atenção especial para o edifício Paris que precisa de uma recuperação mais profunda. “Isso não é novidade no Brasil. Existem várias cidades que fizeram projetos similares como Salvador, Rio de Janeiro e João Pessoa. Essa é a área que queremos dar um start para as ações na Ribeira pela Prefeitura do Natal com foco no turismo, até pela presença do Teatro Alberto Maranhão e a própria Praça Augusto Severo que também deve ser retomada”, diz.
No começo de abril, o prefeito Álvaro Dias se reuniu com representantes do Iphan para apresentar o projeto de requalificação do bairro da Ribeira. Além da recuperação do entorno da Praça Augusto Severo (Largo do Teatro Alberto Maranhão), e das principais vias de acessos, como as ruas Tavares de Lira, Chile e avenida do Contorno, a Pedra do Rosário também deve ser requalificada.
Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o chefe do Executivo municipal comentou sobre a primeira ação programada. “Estamos falando sobre um projeto amplo de revitalização da Ribeira, vamos iniciar com a recuperação e revitalização dos prédios no entorno do Largo do Teatro Alberto Maranhão através da pintura e do acabamento devido. Além disso, vamos retomar a Praça Augusto Severo, que estava cedida ao Governo do Estado, e atuar para que ela fique realmente agradável e convidativa”, disse o prefeito.
Álvaro Dias expressou que  pretende, através desses projetos, fortalecer o comércio e incentivar o turismo na Ribeira. “É ali que a cidade do Natal deu seus primeiros passos, onde o comércio teve toda pujança e realmente foi perdendo consistência ao longo do tempo. Queremos revitalizar e trazer essa força de volta, bem como elaborar novas atrações turísticas priorizando a principal atividade econômica geradora de emprego e renda na capital”, finaliza.
Reforma será iniciada após autorização Segundo a Setur, uma reunião com representantes do IPHAN foi feita no final do mês de abril com discussões bastante produtivas. A Secretaria diz que a empresa vencedora está pronta para iniciar os trabalhos assim que as autorizações do Instituto forem emitidas, mesmo que paulatinamente. Contactado, o IPHAN confirmou que o material foi recebido e protocolado na tarde desta quarta-feira (04). A manifestação técnica deve sair em 45 dias.
Por meio de nota, o IPHAN/RN reiterou o interesse em participar ativamente na preservação do patrimônio cultural potiguar. O prazo para resposta segue as determinações da Portaria 420/2010 que dispõe sobre a concessão de autorização para realização de intervenções em bens edificados tombados e nas respectivas áreas de entorno. “Seguindo a prática comum desse Instituto, temos participado de reuniões com secretarias municipais e estaduais, que ventilaram a intenção de realizar obras em fachadas do Centro Histórico”.
“O Iphan avalia o interesse de recuperar essas fachadas de forma positiva, e considera que a execução dessa ação definirá uma nova perspectiva na percepção do conjunto tombado, atraindo novos olhares e os mais variados interesses que contribuem para a preservação do patrimônio cultural tombado”, dizem.
Por se tratar de obras em bem tombado pelo Iphan, se faz necessária a emissão de autorização prévia conforme o Decreto lei 25/37. O Iphan/RN cumpre esse papel através de análises técnicas que têm por objetivo avaliar a possível interferência das intervenções propostas na leitura e percepção dos valores históricos e paisagísticos do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico do município de Natal em seu Centro Histórico. Nesses termos, estão sob tutela do Iphan cerca de 1.500 imóveis, na área tombada e no entorno da poligonal de tombamento.
População fala sobre a revitalizaçãoPaulo César Soares, 49 anos, é responsável pelo restaurante Cantinho do Torresmo que funciona no edifício Mossoró. O comerciante tem suas dúvidas sobre a viabilidade do projeto. “Acho que não tem mais recuperação, são coisas muito antigas. O ideal seria tirarem as marquises do prédio que de vez em quando caem em cima do povo. Eu vi o projeto e é muito lindo mas não acredito que saia do papel. Tomara que saia mas eu acho muito difícil”.
Segundo ele, são quase quinze lojas abandonadas na rua Câmara Cascudo e a segurança no local não é boa pelo estado da Praça Augusto Severo e as pessoas que a frequentam, principalmente durante a noite. Atualmente, a estrutura do Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão é usada como abrigo por moradores de rua. 
No local, André Félix trabalha em uma lanchonete que tem concessão para funcionar na parte inferior do Museu. O jovem de 26 anos acha o projeto de revitalização bastante necessário. “Já fazem praticamente dez anos que a Ribeira tá esquecida, não tem nada de inovador aqui. A Praça teve todo um projeto que não foi finalizado nem entregue e acabou nos prejudicando mais que a pandemia. A gente vê que é necessário mesmo uma revitalização aqui na Ribeira para trazer novas pessoas”.

Fonte: Tribuna do Norte

Foto: Magnus Nasscimento