A chamada “terceira via” tem sido o mote que mais se viu presente no noticiário e nos comentários de jornalistas especializados nos últimos meses. Desejo e obsessão da grande mídia corporativa ou empresarial, a insistência no tema parecia apontar para uma robusta articulação política que iria se contrapor ao que tem se chamado “polarização” da disputa eleitoral de 2022 para o cargo mais importante da nossa república. Alguns iam um pouco mais além e chegavam a falar em dois “extremismos” que se incorporavam nos dois candidatos que têm liderado as pesquisas de opinião de voto nos últimos meses.

Curiosamente, esses ditos analistas têm evitado escrupulosamente utilizar a expressão “extrema-direita” para se referir a um dos polos da disputa eleitoral que começa a assumir feição mais concreta com o lançamento oficial das candidaturas. Ao que tudo indica, a essas alturas, com a aproximação do dia 18 de maio, data-limite que os próprios protagonistas da chamada “terceira via” estabeleceram para definir a candidatura unificada do autointitulado “centro democrático”, tudo indica, repito, a terceira via está se desmanchando no ar. Não foi por falta de estímulo, de torcida até, dos apelos desesperados que cidadãos circunspectos faziam quando tratavam da questão das candidaturas presidenciais.

Seja dito de passagem: a polarização é apanágio da política democrática em todos os tempos. A famosa divisão direita-esquerda, que o pensador político Norberto Bobbio (um dos mais expressivos pensadores liberais do século XX, senador vitalício na Itália) abordou num livrinho justamente famoso, consolidou-se sobretudo depois da Revolução Francesa de 1789 e tem dado o timbre das disputas políticas desde então no mundo civilizado (e também do não tão civilizado). Os nossos analistas políticos precisam olhar à sua volta e ainda prestar atenção à História, essa mestra dos tempos, para não confundir seus desejos com a realidade.

Pois é, a esquerda, tão demonizada em certas redes sociais, faz parte da tradição de nossa civilização… democrática! Falando concretamente: existem esquerdas e direitas. Nem sempre democráticas. Mas, o que é a democracia mesmo? O caro leitor não deve pensar que a resposta é fácil. Muita “tinta” já se derramou sobre o assunto. Vamos deixar tema tão espinhoso para outra ocasião e falar de algo mais próximo: é o Brasil um país democrático? Ou seja, para simplificar, aqui as eleições para os cargos decisivos do sistema político têm sido regulares ao longo do tempo, há liberdade para diversas e contraditórias correntes de opinião apresentarem seus programas e suas propostas? As eleições são limpas e transparentes, os resultados eleitorais têm sido respeitados? Isso é o mínimo do mínimo. Questões para serem “mastigadas”, pensadas e repensadas.

Fonte: AgoraRN