Situada no coração da Cidade Alta, centro histórico da capital, a Travessa Pax é um pedaço da velha Natal. Além de conservar o único resquício de calçamento antigo da cidade, o local é todo uma homenagem ao político e inventor Augusto Severo (1864-1902). Além de ter o nome do dirigível que Severo conduziu em Paris, a travessa é agora uma grande tela a céu aberto em homenagem a ele: os muros se tornaram um painel de 170 metros quadrados de grafites retrata vários momentos da vida do macaibense. A homenagem vem na ocasião em que se completa 120 anos da morte do ilustre potiguar. 

O painel idealizado pelo artista plástico Flávio Freitas, diretor de Artes Integras da Secretaria de Cultura de Natal, traz oito cenas distintas separadas por uma linha sinuosa. Os muros da travessa foram grafitados pelos artistas Fabio Freitas, Emanuel Aquila (Jão), José Augusto (Flip, Diogo Borges (Digone) e Marcelo Hugo. As cenas seguem uma ordem cronológica com eventos mais significativos da vida e obra do inventor aeronáutico. 
Ascenção e quedaOs grafites começam retratando a casa onde nasceu Severo, em Macaíba; depois, ele jovem ao lado de dois de seus irmãos também ilustres, Pedro Velho (médico, senador e governador do RN) e Amaro Barreto (pianista, professor da Escola Nacional de Música no Rio de Janeiro). Na sequência tem a paisagem dele pelo Rio de Janeiro no final do século 19, com imagem de Severo e primeiro plano representando sua mudança para a capital do país para estudar engenharia. 
Em seguida vem o balão La Victoria e seu inventor, o paraense Cezar Ribeiro de Souza. Representa a paixão de Severo pela aviação, que ganha vulto com a apresentação do vôo demonstração do balão La Victoria, no Rio de Janeiro, em 1882. Outro momento é a  paisagem do teste histórico do balão “Bartolomeu de Gusmão”, patrocinado pelo governo imperial do Brasil em 1894, também na capital Rio de Janeiro. Continua com o desenho do primeiro projeto de balão de autoria de Augusto Severo, o aeróstato Potiguariana realizado em Natal no ano de 1889. 
Na sexta cena do painel, foi retrata a visão do dirigível número cinco, de Santos Dumont, contornando a Torre Eifell e por isso ganha o prêmio Deustch daquele ano de 1901, que Severo almejava alcançar em 1902. Em primeiro plano Dumont, Severo e Sachet, o mecânico francês Georges Sachet. A cena de número sete está reservada para a visão do trágico acidente aéreo do dirigível Pax enquanto pairava sobre os tetos de Paris, em 12 de junho de 1902. 
Augusto Severo estava prestes a demonstrar neste voo a alta dirigibilidade do Pax e com isso fazer jus ao prêmio Deustch de 1902. No final, a paisagem da praça Augusto Severo, na Ribeira, com o então moderníssimo dirigível alemão Graf Zepellin, de transporte transcontinental de passageiros e cargas – em memória das duas homenagens que os comandantes do Zepellin fizeram aos grandes feitos aeronáuticos de Augusto Severo sobre a cidade do Natal, nos anos de 1930 e 1933.
A história de Augusto Severo não é lembrada apenas por seus conterrâneos potiguares. Na cidade de Petrópolis (RJ) existe uma rua Augusto Severo no bairro Morin. Ainda no começo do século XX, duas ruas em Paris, próximas ao local do acidente, foram nomeadas Rue Severo e Rue Georges Saché, em homenagem aos aeronautas acidentados. Naquele mesmo ano, o cineasta Georges Méliès dirigiu o curta-metragem “La Catastrophe du ballon Le Pax”, sobre o acidente.

Fonte: Tribuna do Norte

Foto: ALEX REGIS