Os centros das capitais brasileiras estão lotados de pessoas ao relento. Desde o início da pandemia da Covid-19, esse número disparou em todo o país O único dado oficial mais recente, que ainda se trata de uma projeção, foi divulgado em março de 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): 221.869 brasileiros viviam nas ruas naquele ano.

Porém, para o Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR), cerca de meio milhão de brasileiros devem estar morando nas ruas atualmente.

Segundo Vanilson Torres, que passou 27 anos nas ruas de Natal e hoje é representante do MNPR, o novo perfil da população em situação de rua é de pessoas pertencentes à classe trabalhadora, que não conseguem mais pagar aluguéis e contas. No centro da capital potiguar, é possível constatar o alto número de adultos e crianças sem abrigo – mesmo sem um dado oficial disponível.

No Viaduto do Baldo, as pessoas costumam catar lixo para conseguir sobreviver. Milena da Conceição, de 23 anos, enfrenta uma dificuldade extra: ela tem um bebê de dois anos. “É muito difícil saber que amanhã não terei um trabalho, nem uma casa. Dá um desespero”, contou, em relato ao Agora RN.

Em abril passado, a Prefeitura do Natal retirou cerca de 15 famílias do local, conforme denunciou a vereadora Divaneide Basílio (PT-Natal). “É desumano como o Executivo tem tratado a população em situação de rua. A ação higienista da Prefeitura é, sobretudo, ilegal. Nós estamos cobrando explicações sobre esses despejos desde o início”, disse a parlamentar.

Há dois anos, as operações executadas com o auxílio da Guarda Municipal acontecem na região. A reportagem verificou que os guardas ficam em vigilância no local, para impedir a construção de barracas improvisadas. “Levaram tudo, todos os meus documentos. Espero uma melhora, nós queremos uma moradia fixa sem o compromisso de pagar aluguel”, revelou Solange da Silva, de 48 anos, que teve o abrigo retirado do Viaduto recentemente.

Diana Pamela da Silva, 43 anos, confirmou a situação, “Primeiro, veio a chuva e carregou nossas camas. Conseguimos tudo de novo, mas veio a Prefeitura e mandou tirar”.

Dado preliminar aponta que o RN tem cerca de 2 mil pessoas em situação de rua

O Governo do Rio Grande do Norte, por meio da Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas), deve divulgar os resultados do primeiro Censo da População em Situação de Rua no RN em julho. Os dados preliminares apontam que no Estado há cerca de 2 mil pessoas em situação de rua hoje. Em dezembro de 2020, eram 400 moradores de rua na capital.

A pesquisa de campo foi concluída na última sexta-feira 27 e entrou em fase de tabulação e análise dos dados para que seja divulgado o resultado. Segundo a Sethas, Natal e a região do Trairi possuem o maior número de população nas ruas.

Centro Pop, em Natal, atende 110 pessoas diariamente

O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), em Natal, atende 110 pessoas diariamente, de acordo com a Secretaria Municipal do Trabalho e Assistência Social (Semtas). A pasta oferece orientação jurídica, psicossocial e garantia de direitos de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h., com direito a café da manhã, almoço e lanche.

Já o Albergue Noturno oferece serviços de pernoite. Os usuários tem direito ao jantar e café da manhã e tem capacidade para 50 usuários. A Prefeitura criou ainda a Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias em Situação de Rua na modalidade 24h, que conta com uma equipe multidisciplinar, assistente social, psicólogos educadores sociais, orientadores sociais e cuidadores, tendo capacidade para 50 pessoas.

No local, o usuário tem dormitório e quatro refeições diárias. Atende homens e mulheres entre 18 e 59 anos. O espaço se soma ao Centro Pop e ao Albergue Noturno Municipal, ampliando, assim, para três unidades com capacidade de atendimento e acolhimento para 220 pessoas.

Aluguel Social

Atualmente, Natal tem aproximadamente 101 famílias em situação de rua inseridas no benefício de aluguel social. Além disso, a Semtas oferta cursos de qualificação profissional para esse público e mantém parceria com a Secretaria de Saúde para funcionamento do consultório de rua para atendimento médico e encaminhamento, quando necessário, para toda a rede do SUS.

Fonte: AgoraRN

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