Milhares de lojistas em todo o País promoveram ontem o “Dia Livre de Impostos”, um protesto contra a cobrança de tributos no País. Comerciantes dos mais variados segmentos venderam seus produtos com até 70% de desconto, no intuito de conscientizar os consumidores sobre o que os impostos representam na composição do preço final das mercadorias.

A proposta até que poderia ser boa. Mas não é bem assim…

Ninguém duvida que seja positivo alertar a população sobre o peso da carga tributária. Defender uma diminuição na cobrança dos impostos, de igual modo, é um movimento legítimo. Porém, é preciso ter muito cuidado para que esse tipo de ato não propague um discurso irresponsável e populista.

Impostos são fundamentais para a manutenção do Estado. É óbvio, mas é preciso deixar claro: impostos precisam existir. Sem os tributos, não há como haver serviços públicos, como saúde, educação, segurança e limpeza. Sem impostos, não tem como existir também a estrutura que garante o cumprimento das leis e a organização da vida em coletividade.

A menos que os defensores do Dia Livre de Impostos também queiram uma anarquia, em que cada um faz o que quer, é preciso financiar a existência do Estado, que media a nossa convivência e nos entrega serviços.

Pode-se, claro, questionar se os impostos são elevados ou não, se o gasto do dinheiro é bom ou ruim e se a forma como a cobrança acontece é justa. Em momento oportuno, este AGORA RN vai expor seu ponto de vista sobre cada um desses pontos. Mas, antes, é preciso ser responsável e partir do princípio de que, sim, impostos precisam ser cobrados do cidadão.

A pedagogia proposta pelo Dia Livre de Impostos induz o cidadão comum a crer que o mundo ideal seria aquele sem cobrança de tributos, quando não necessariamente o é.

Neste sentido, a campanha acaba promovendo um desserviço à coletividade, na medida em que, de certa forma, demoniza a cobrança de impostos e joga a população contra a estrutura burocrática do Estado que é responsável por recolher as contribuições de cada um.

O Dia Livre de Impostos seria uma ação muito mais profícua e benéfica à coletividade se apresentasse com clareza ao menos uma alternativa ao modelo posto. O movimento precisa amadurecer e apresentar saídas para o quadro atual. A campanha deve vir acompanhar de uma proposta clara de modificação no sistema de cobranças.

Assim, poderemos ter, quem sabe, um Dia Livre de Impostos, mas daqueles mal cobrados, injustos e mal distribuídos.

Fonte: AgoraRN

Foto: Ney Douglas