Após 10 anos, a rede de saúde do Rio Grande do Norte voltou a fazer um transplante de coração. O procedimento foi conduzido por uma equipe médica multidisciplinar do Hospital Rio Grande no domingo (27). O coração foi transplantado de um paciente do sexo masculino de 27 anos para outro homem de 57 anos, que tinha um quadro grave de cardiopatia, em um processo que teve início na quinta-feira (24), com coleta de exames e acompanhamento do doador. Esse é o 13º transplante cardíaco da história do Estado.

O órgão saiu de Mossoró, no Oeste do Estado, e foi levado para a capital, onde o transplante foi realizado. Entre a retirada do coração do doador e implantação no receptor se passaram cerca de quatro horas. A médica nefrologista e coordenadora da Central Estadual de Transplantes, Rogéria Noga de Medeiros, conta que a etapa fundamental para que a cirurgia aconteça é o “sim” dos familiares. O doador foi vítima de traumatismo craniano.
“Importante ressaltar que um transplante é um procedimento complexo que envolve a mobilização de toda uma equipe, tanto nacional e estadual. Envolveu aviões da governadoria e da FAB, ou seja, são múltiplas pessoas envolvidas num só esforço. Mas tudo isso só é possível por causa do doador. Não existe doação sem doador. Tudo começa com a boa vontade dos familiares, no momento do diagnóstico de morte encefálica”, destaca.
A cirurgia em si contou com cerca de 20 profissionais de diversas áreas da saúde, mas mobilizou também apoio logístico de transporte e escolta do Ministério da Saúde, Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) e Secretaria Municipal de Saúde (SMS/Natal). Um avião foi acionado para levar parte da equipe da central de transplantes para o Hospital Tarcísio Maia, em Mossoró, onde estava o paciente doador. Além do coração, a família autorizou a doação de outros órgãos, que foram transferidos em um outro voo.
Segundo os médicos do Rio Grande, que participaram da cirurgia, o paciente reagiu bem e está estável. Ele permanecerá em acompanhamento em um leito de terapia intensiva pelas próximas 72 horas. “São horas decisivas para o paciente em que se tem que ter todo o cuidado, para que não haja rejeição, para que o coração funcione plenamente”, explica  Luiz Roberto Fonseca, diretor-geral do Hospital Rio Grande. Fonseca acrescenta que o transplantado será assistido permanentemente pelos profissionais do centro.
“Ele estará vinculado aos profissionais do Rio Grande para o resto de sua vida. Esse paciente não vai mais extrair um dente sem uma consulta prévia com um cardiologista nosso para dizer que tipo de anestésico ele poderá usar, por exemplo. É um vínculo muito forte entre instituição e o paciente. É uma alegria muito grande para nós poder dar essa esperança ao paciente, cuja qualidade de vida estava completamente comprometida”, diz Fonseca.
O transplante de coração foi feito por meio de um convênio entre o Sistema Único de Saúde (SUS), operado no RN pela Sesap, e o hospital privado Rio Grande. Em Natal, os contratos são administrados pela SMS. O titular da Saúde da capital, George Antunes, afirma que o próximo passo é reunir condições para que o Município também possa fazer transplantes de fígado.
  “Desde 2010, quando eu estava na secretaria estadual, que percebi o grande potencial que o RN tinha para fazer transplantes aqui mesmo. Nós estruturamos uma organização de procura de órgãos, ligada a central de transplantes, que faz um trabalho extraordinário no Estado. Nós conseguíamos tirar os órgãos, mas os transplantes eram feitos em outros estados porque faltava a outra ponta, que era o município ter a estrutura para fazer o transplante. Agora o próximo passo vai ser a possibilidade de fazermos transplantes de fígado”, destaca Antunes.
O Hospital Rio Grande foi habilitado pelo Ministério da Saúde para transplantar coração de algum doador para pacientes que estejam na fila nacional de espera do Ministério da Saúde em agosto do ano passado. O sinal verde veio após inspeção de uma equipe de médicos pernambucanos, com experiência no Nordeste e no Brasil, enviada pelo MS. Na ocasião, os profissionais também participaram de um simpósio, onde trocaram experiências com os médicos do RN.
De acordo com o médico Ângelo Queiroz Chaves, a interrupção dos transplantes ocorreu por deficiência na estrutura, que foi se dissolvendo ao longo dos anos. “Como a maioria dos clínicos procurou outros caminhos, a gente ficou sem essa estrutura. A gente tentou fazer alguns transplantes só com a equipe da cirurgia, mas ficava muito pesado. O transplante é uma dinâmica globalizada, digamos assim, todo mundo tem a sua importância. Por isso, para não arriscar, a gente suspendeu os transplantes, mas estamos felizes com essa volta”, diz o profissional, que atuou nos primeiros procedimentos feitos no RN.
Antes da paralisação, 12 transplantes de coração foram feitos no Rio Grande do Norte no extinto Hospital Médico-Cirúrgico (HMC) e na Promater. O Rio Grande já é o terceiro hospital no Brasil que mais faz transplante medula óssea e já solicitou credenciamento ao Ministério da Saúde para fazer transplantes de fígados.
Como doarPara ser doador de órgãos basta expressar em vida aos seus familiares o desejo de ser um doador, não sendo necessário nenhum documento oficial. As famílias de possíveis doadores são assistidas por equipes especializadas que orientarão como proceder para permitir a doação de órgãos.
“Quando acontece algum trauma, algum motivo que leve à morte encefálica, a equipe especializada do hospital vai procurar e abordar a família sobre a possibilidade da doação de órgãos. Isso acontece quando o paciente já tem o diagnóstico médico de morte encefálica.
Depois disso, a equipe entrevista a família sobre o desejo e a permissão de doar os órgãos do familiar. A família assina o documento dando a permissão para que a doação aconteça”, disse a nefrologista e coordenadora da Central Estadual de Transplante, Rogéria Noga de Medeiros Nunes.
Enquanto perdurar a pandemia da covid, a Central Estadual de Transplantes da Sesap seguirá um protocolo para a realização de transplantes de órgãos, o qual só permite o procedimento entre pessoas que testam negativo para o coronavírus.

Fonte: Tribuna do Norte

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