Com a chegada do verão, bares e restaurantes em Natal já conseguem vislumbrar uma melhora no desempenho de seus negócios. Essa percepção acompanha dados divulgados na última quarta-feira (13) pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). A pesquisa mostra que apesar de três em cada quatro estabelecimentos do setor trabalharem com menos funcionários do que antes da pandemia, 31% deles pretendem recontratar nos próximos três meses. No entanto, a procura por mão de obra qualificada no Rio Grande do Norte é um gargalo para esse crescimento.

Entidades do setor, como a Abrasel, apontam a perspectiva de crescimento dos negócios e, consequentemente, da contratação de mão de obra. Ao mesmo tempo, empresários confirmam a dificuldade para contratação. Diego Fellipe Rocha, proprietário do Divino Restaurante, previamente conhecido como Divino Camarão, diz que há falta de mão de obra qualificada em Natal. “Temos muita dificuldade de contratar e reter funcionários, em qualquer função. Com os cargos que exigem maior qualificação, é muito difícil. Quanto maior o cargo, maior a dificuldade, mas estamos com esse problema em todos, de auxiliar a chef de cozinha”, diz Diego, que teve uma queda no número de funcionários.

Max Fonseca, diretor da Abrasel, explica que existem três diferentes níveis nas contratações do setor de alimentação fora do lar. Primeiramente, o setor tem uma grande capacidade de absorver mão de obra sem qualificação, para cargos de níveis mais baixos como jardineiros e auxiliares de limpeza. Depois, entram os cargos de mão de obra especializada, como cozinheiros, sushimen, chefes de atendimento, entre outros. Por fim, estão os cargos de gestão, que englobam, por exemplo, a gerência geral e administrativa. Nesses dois últimos casos, há interesse de contratação mas não há pessoas qualificadas para suprir a demanda, o que é um problema para o segmento.

Para as pessoas que estão em busca de oportunidades profissionais, especialmente no segmento de turismo, gastronomia e hospitalidade, o Senac RN é uma referência nesse tipo de capacitação. Atualmente, o portfólio da instituição oferece cerca de 350 cursos de formação profissional, distribuídos em mais de dez áreas de atuação, entre elas, a área da gastronomia.

Raniery Pimenta, diretor regional do Senac, conta que de cada dez cursos ofertados, atualmente seis são capacitações que não existiam antes da pandemia, demonstrando as mudanças exigidas pelo mercado durante esse período. Nesse sentido, o Senac foi um dos parceiros envolvidos na construção do Plano de Retomada do Turismo, que proporcionou, entre outras ações, a criação de cursos de biossegurança para profissionais que atuam nos setores de Meios de Hospedagem, Serviços Receptivos, Alimentos e Bebidas e Eventos.

“Foram mais de 2,5 mil profissionais formados gratuitamente em cursos que tinham como foco preparar os trabalhadores destes segmentos para rotinas de trabalho adequadas às normas sanitárias e de higiene. Acompanhamos de perto as necessidades da classe empresarial e trabalhamos para atender essas demandas de forma ágil e eficiente”, comenta.

Nos últimos três anos, foram cerca de 5.300 matrículas em cursos da área de gastronomia, sendo mais de duas mil gratuitas, pelo Programa Senac de Gratuidade. Anualmente, a instituição recebe cerca de 20 mil matrículas efetuadas em vários cursos.

“Nessa área, temos o Senac Barreira Roxa, um equipamento que conta com o Centro de Educação Profissional, Hotel e Centro de Eventos. O complexo Barreira Roxa tem capacidade para cerca de 2 mil matrículas por ano, em cursos de Cozinheiro, Auxiliar de Cozinha, Garçom, Bartender entre outros. Temos também diversos cursos rápidos na área da gastronomia, como Culinária Vegana, Cozinha Italiana, Culinária Japonesa e muitos outros”, diz Pimenta.

Em relação à escassez de mão de obra qualificada, Pimenta explica que a instituição tem acompanhado alguns segmentos onde os empresários relatam dificuldades em conseguir profissionais capacitados, visto que muitos mudaram de área em razão da pandemia. Para conectar empregadores com futuros empregados, o Senac dispõe do serviço Senac Empregabilidade, onde alunos se inscrevem e se colocam à disposição para trabalhar e empresas interessadas em mão de obra qualificada informam sobre vagas disponíveis.

“O Senac Empregabilidade faz a seleção de quais de nossos formandos melhor atendem os requisitos e os encaminham às empresas. Atualmente temos cerca de 1.700 empreendimentos cadastrados nesse serviço”, finaliza.

Setor perdeu 10% do número de empresas
Segundo dados da Fecomércio, o setor de alimentação fora de casa tem cerca de 5,5 mil empreendimentos ativos em Natal, o que representa 6% das empresas existentes na cidade e 7,2% do total de empreendimentos de Comércio e Serviços. Atualmente, bares e restaurantes empregam, de maneira direta, cerca de 14 mil pessoas na capital potiguar, pagando pouco mais de R$ 17 milhões em salários.

Durante o período de pandemia, cerca de 10% das empresas maiores no segmento fecharam suas atividades, mas o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) cresceu quase 300%, contabilizando 3.690 pessoas. No momento atual, essa quantidade representa 67% do total de negócios atuais existentes. O presidente da Fecomércio, Marcelo Queiroz, acredita que houve uma transformação bastante relevante no perfil dos empreendimentos em Natal. “Os números mostram que, com a pandemia, houve sim o fechamento de estabelecimentos de maior porte, porém, foi acrescido o número de empreendimentos menores, como os MEIs.”

“Nesse setor, foram cerca de mais de três mil pessoas demitidas na pandemia, mas pelo menos dois terços delas viraram MEIs. Ou seja, estas pessoas não estão mais desocupadas e sem renda. Estão tentando se reerguer com o próprio negócio e tirar algum proveito da retomada. A economia é cíclica e se transforma de acordo com as circunstâncias. As pessoas precisam sobreviver e buscam isso de algum modo”, complementa.

Segundo Queiroz, a arrecadação de ICMS dos bares e restaurantes comprova que a retomada já está acontecendo com adesão considerável da população de Natal. “Em setembro desse ano, foi alcançada a melhor marca de arrecadação desde dezembro de 2019, correspondendo a R$ 5,10 milhões. Após a permissão do funcionamento desses estabelecimentos, seguindo os protocolos biossanitários, os natalenses se sentiram seguros a frequentar os locais, movimentando a economia. Outro exemplo é que em julho desse ano foi arrecadado a mesma coisa que em dezembro de 2020, R$ 5 milhões”.

Empregos devem surgir até o mês de dezembro
De acordo com Max Fonseca, diretor nacional da Abrasel, há expectativa de contratações em Natal por duas frentes distintas: a primeira corresponde a segunda quinzena de novembro e o mês de dezembro, atendendo um público mais local. Na segunda frente, o incremento na geração de empregos deve focar nos bares e restaurantes que atuam mais diretamente no turismo. “Não temos como prever o futuro, mas acompanhamos os indicadores do setor hoteleiro. A expectativa é de uma alta temporada com o turismo doméstico muito forte, o que certamente vai impactar nas contratações”, explica.

Para a Abrasel, a perspectiva do terceiro trimestre desse ano deve alcançar o mesmo volume de negócios apresentados no período pré-pandemia. “Há exceções, tem empresas que naufragaram, empresas que tiveram que reduzir a sua participação no mercado, mas nossa avaliação é ancorada nos indicadores de turismo doméstico e regional”, esclarece Fonseca.

Bruno Marques Carvalho, representante do Faaca Boteco & Parilla, nota uma leve melhora em relação ao fluxo de pessoas e ao consumo. “Acredito que por ser verão e pelo relaxamento nas restrições impostas pelo governantes, com decretos mais brandos, estamos no início da recuperação e esperamos uma melhora”.

O empreendedor conta que precisou realizar uma readequação no quadro de funcionários, indo de 33 para 30 colaboradores. “Durante a pandemia, tivemos que voltar a operação somente para o sistema de delivery, renegociando impostos e fornecedores, mas estamos conseguindo nos reerguer”.

Em funcionamento desde 2019, o Faaca tem como diferencial o cuidado com a carne feita na parilla e vinda do sul do Brasil. Segundo Carvalho, o estabelecimento “continua tomando todos os cuidados como se fosse o primeiro dia de lockdown, obedecendo as medidas sanitárias e com uma equipe preparada”.

No Divino Restaurante, previamente conhecido como Divino Camarão, Diego Fellipe Rocha chegou a considerar o fechamento total das atividades. “Não funcionávamos com delivery antes. Não sabíamos se teríamos forças para remar essa maré mas estamos com uma boa perspectiva, com várias reestruturações”.

Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Magnus Nascimento