Samanda Alves fez o caminho que muitos jovens do interior percorrem em busca de oportunidades. Aos 20 anos, deixou a casa dos pais em Mossoró para estudar e fazer carreira na capital Natal. Obteve êxito. Seu currículo é a prova disso.

Assessora pessoal da governadora Fátima Bezerra (PT) por mais de 20 anos, ela acumula missões e cargos importantes como secretária-adjunta do Gabinete Civil do Governo do Rio Grande do Norte, subsecretária do Trabalho, Emprego e Renda, coordenando o SINE/RN, e também ocupou função no Ministério de Direitos Humanos da Presidência da República, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Agora, Samanda se prepara para um novo desafio, talvez o maior de sua carreira pública, que é se eleger deputada federal no pleito deste ano. Filiada ao PT, ela pode surpreender numa chapa que tem nomes como a deputada Natália Bonavides e o ex-deputado Fernando Mineiro.

É sobre a sua estreia em campanhas eleitorais, como candidata, que Samanda Alves conversou no “Cafezinho com César Santos”, na sede do Jornal de Fato, em Mossoró. Ela disse que pretende colocar em debate a luta contra a fome e pelo emprego, além da agenda progressista que defenderá em campanha.

Samanda também fala do desafio de reencontrar os mossoroenses e convencer que ela pode ser uma legítima representante da cidade na Câmara dos Deputados.

O fato de a senhora ter sido assessora pessoal da governadora Fátima Bezerra por mais de 20 anos teve peso decisivo na tomada de decisão de ser candidata nas eleições deste ano?

Sim, com certeza, e posso afirmar que é um peso bem forte. Quando cheguei a Natal, Fátima Bezerra estava no mandato de deputado estadual. Acompanhei de perto a sua atuação parlamentar. Depois, eu entrei pela área de informática, com a minha qualificação profissional e sempre acompanhando o jeito dela de fazer política, de desempenhar a sua missão pública, de correr atrás de benefícios para o Rio Grande do Norte. Quando ela se elegeu deputada federal, iniciei o trabalho de assessora por mais de 20 anos. Isso foi muito importante para mim, porque o trabalho de Fátima como deputada, senadora e agora governadora serve de inspiração. Então, o olhar de como a governadora desempenhou e desempenha os seus mandatos teve um peso importante para eu tomar a decisão de colocar o meu nome à disposição do meu partido e, agora, da sociedade.

Não há dúvida que a caminhada de duas décadas com a governadora Fátima lhe deu um conhecimento preciso do que é o Rio Grande do Norte. Essa é a base de sustentação do seu projeto eleitoral?

A nossa base está fortalecida naquilo que a gente construiu nos diálogos durante mais de 20 anos, quando estive assessora de Fátima Bezerra. Falo dos diálogos com o partido, no campo progressista e no plano institucional. A experiência ao lado de Fátima também é uma base importante. Durante os mandatos como deputada federal, ela foi a única parlamentar a levar benefício para todas as cidades do Rio Grande do Norte. Isso possibilitou o diálogo com os gestores municipais, vereadores, lideranças regionais. A gente, como assessora, intermediava o diálogo da deputada com os municípios e isso nos deu a oportunidade de conhecer bem todo o estado. Então, a gente vai contar, sim, não só com a militância do nosso partido, mas com pessoas que participaram, que foram testemunha dessa nossa ação e que estarão conosco nessa nova caminhada.

O fato de a senhora ter essa aproximação com a governadora não pode causar ciúmes dentro da chapa à Câmara dos Deputados da federação PT/PCdoB/PV?

Confesso que a gente tinha esse receio, acho que por isso a gente tenha demorado tanto a decidir sobre candidatura. Mas, nós tivemos Adriano Gadelha, que sempre esteve à frente dos mandatos de Fátima como coordenador, e foi candidato a deputado federal nas eleições de 2014, sem criar dificuldades ou sofrer resistência. É verdade que isso sempre foi motivo de receio, mas surpreendentemente essa reação tem sido bem menor em relação ao nosso nome. As pessoas estão entendendo o nosso papel, a gente vem para somar com a nominata e a governadora está sabendo muito bem lidar com isso, ela sabe o papel e a importância de cada um, não só dos que estão no PT, no PV, PCdoB, na nossa federação, mas também aqueles que estão em outros partidos coligados com a majoritária. Fátima tem sabido conduzir isso e nós estamos no projeto para somar, com objetivo muito claro, sem prejudicar ninguém e respeitando todos os outros candidatos e candidatas de nossa nominata.

Há uma concorrência muita forte dentro da nominata PT, PCdoB e PV, com nomes como a deputada Natália Bonavides e o ex-deputado Fernando Mineiro. Onde a sua postulação alimenta a chance de eleição?

Primeiro, temos que entender que cada eleição é uma eleição. O PT fez dois deputados federais na última eleição em 2018 (oficialmente, o PT elegeu apenas a deputada federal Natália Bonavides em 2018) em um cenário onde o bolsonarismo estava em alta. Quem não lembra, por exemplo, que (Eduardo) Suplicy e a Dilma (Rousseff) estavam quase eleitos para o Senado, eram primeiro lugar nas pesquisas, e a onda veio e tirou a vitória deles. Para além disso, Fátima Bezerra não era governadora e o nosso maior líder, Lula, estava preso, e nesse cenário nós elegemos dois deputados federais aqui no Rio Grande do Norte. A gente avalia que é possível, sim, o PT eleger três deputados federais nas eleições deste ano. Eu só estou pleiteando uma vaga (riso), mas a gente tem esse entendimento e estamos trabalhando pra isso. Natália Bonavides tem um grande mandato, muito reconhecido, Mineiro também é um grande companheiro e foi um bom gestor à frente do projeto Governo Cidadão, e nós estamos aqui trazendo também as nossas intenções, as motivações da nossa pré-candidatura e trabalhando para que o presidente Lula (candidato à Presidência da República) possa contar com três deputados do Rio Grande do Norte, e que Mossoró possa contar com a deputada federal da terra.

A sua terra é Mossoró, seus pais residem em Mossoró, mas pelo fato de a senhora ter saído da cidade ainda jovem para construir carreira profissional, é pouca conhecida do grande público. A campanha eleitoral deste ano é a grande oportunidade de a senhora se apresentar aos conterrâneos? Quais as suas expectativas?

Quando saí de Mossoró para Natal, eu já tinha 20 anos, ou seja, metade da minha vida foi aqui em Mossoró. A gente tem buscado esse diálogo com o povo de Mossoró, mas somos conscientes que existe uma barreira para essa aproximação, porque esta é a primeira eleição estadual que vai durar apenas 45 dias. Pouco tempo se levar em conta que as campanhas passadas tinham duração de 90 dias. Realmente, eu sou desconhecida da população lá da ponta, mas isso não nos desanimará; pelo contrário, vamos realizar o nosso trabalho, já estamos fazendo os diálogos com os setores organizados, utilizando as ferramentas de comunicação que temos hoje, como as redes digitais, para promover essa interação com os mossoroenses. Nós temos como explicar porque saímos daqui ainda jovem, assim como muitos interioranos fazem em busca de estudos e trabalho. Estamos falando do sentimento de gratidão que tenho por Mossoró, mas também de dívida que pretendemos resgatar agora lutando por oportunidades para que outras jovens não precisem sair de sua terra como eu saí em busca de estudo e trabalho. É esse diálogo que a gente vai ter com nossos conterrâneos de Mossoró.

Qual é a agenda que a sua candidatura colocará em debate na campanha?

Temos uma agenda que é histórica nossa, bandeira de luta que nós não podemos fugir, que é o combate à fome. Temos hoje 33 milhões de brasileiros que quando conseguem comer, muitas vezes frutos de doação, não sabem que horas vão comer novamente. A fome é a pauta central. Vamos também debater a pauta do emprego. No Rio Grande do Norte, a governadora Fátima tem deixado um cenário bem propício para que o desenvolvimento volte no nosso estado, com a geração de emprego e renda. Temos a luta para que as empresas que foram embora, durante governos passados, possam voltar depois da mudança na legislação aprovada no governo Fátima. Nós queremos estar em Brasília, junto com Lula, contribuindo para o desenvolvimento econômico do nosso estado. Vamos debater outras pautas importantes, mas, sem dúvida, combate à fome e o emprego são pautas que assumiremos.

A senhora tem na bagagem a experiência de ter sido secretária-adjunta do Gabinete Civil do RN, subsecretária do Trabalho, Emprego e Renda, coordenando o SINE/RN, e também ocupou função no Ministério de Direitos Humanos da Presidência da República, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Esse currículo respalda o projeto de buscar um mandato eletivo?

Ajuda e muito. Por exemplo, uma das tarefas que eu cumpri no Gabinete Civil do governo Fátima, era atender as demandas do interior, dos municípios, já que a governadora não instituiu aquela secretaria que sempre teve nos governos anteriores, a pasta das relações institucionais com os municípios. Cumprimos esse papel. A gente tem em mente, de forma muito recente, quais são as principais pautas dos municípios. Também tem aquele exercício do diálogo que nós fizemos, tanto no governo Fátima e no governo Dilma, como forma de buscar saídas para as demandas que chagavam. Nós vivemos agora uma situação muito difícil de pandemia (da Covid-19), que exigiu muita capacidade e determinação da governadora Fátima. Ela pegou o estado quebrado, cheio de problemas, salários atrasados, áreas vitais que precisavam ser recuperadas. Foi preciso muito diálogo, competência. Tivemos muito poder de diálogo para buscar e encontrar saídas. Se tem muitas demandas, mas não tem recursos novos, qual é a solução? Foi esse diálogo que fizemos para enfrentar os problemas. A gente sempre tem falado que o que a governadora Fátima tem feito não é milagre, é gestão, e a gente que cumpriu essa tarefa de buscar as saídas, dando respostas e resultados às demandas que chegavam do interior. Essa experiência nos credencia.

A governadora formalizou aliança com a tradicional família Alves, que o PT combate ao longo de sua história política no RN. Walter Alves será o vice na chapa de Fátima Bezerra e Carlos Eduardo Alves, o candidato ao Senado. Essa aliança não enfrentará dificuldade para ser entendida pelo eleitor?

Brincavam que tinha outro Alves, já que o meu nome é Samanda Alves, mas só para descontrair (riso). A convenção da nossa federação, que oficializou a nossa coligação, para mim ela foi o testamento que a chapa escolhida foi acertada e a decisão foi a correta. A nossa militância entendeu as razões dessa ampla aliança. Nós vimos a militância do PT, a militância do MDB, a militância do PDT, do PCdoB e do PV juntas e não teve nenhum contratempo durante as falas dos nossos pré-candidatos. As pessoas entenderam que essa não é eleição qualquer, até porque está em jogo a nossa democracia. O que a governadora Fátima fez, foi o que o presidente Lula fez, chamando para perto de nós todos aqueles que defendem a democracia, todos aqueles do campo progressista, sem olhar para trás, porque a política não é feita por fotografia, ela é um filme. As pessoas estão entendendo a aliança. As pesquisas que têm sido feitas e divulgadas também estão mostrando que a população entendeu as razões dessa aliança. É uma união pelo nosso Estado, é uma união pelo Brasil, pela democracia, é uma união do campo progressista.

O fato de o PT abdicar no RN da aliança com o PSB, que forma a chapa presidencial com o vice (Geraldo Alckmin) de Lula e Alckmin, não é uma incoerência política? A senhora não acha que a própria militância resiste à ideia de ter Carlos Eduardo ao Senado em detrimento de Rafael Motta, do PSB?

Não acho. O deputado Rafael Motta, que é o presidente estadual do PSB, pessoa que eu tenho muito respeito e admiração, decidiu sobre candidatura ao senado depois de a governadora Fátima ter convidado Carlos Eduardo para a nossa aliança. Se tem uma coisa que Fátima Bezerra tem é palavra, dentre outros atributos importantes. Ela assumiu com Carlos Eduardo e está cumprindo. Quando Rafael veio colocar o nome dele, foi depois que a governadora já tinha oficializado o convite ao ex-prefeito Carlos Eduardo para ser senador. A gente respeita a pretensão de Rafael Motta, ele apoia o governo de Fátima, apoia a candidatura do presidente Lula, mas a gente não tinha como voltar atrás, não tinha nenhum motivo para voltar atrás e desfazer a aliança com o ex-prefeito Carlos Eduardo. Estaremos juntos no plano nacional, mas na disputa estadual o nosso candidato a senador é Carlos Eduardo.

O projeto maior do PT do RN é, evidentemente, a renovação do mandato da governadora Fátima Bezerra para sequenciar o projeto iniciado nas eleições de 2018. Qual é o discurso para convencer o eleitor a reeleger Fátima para mais quatro anos?

A memória do eleitor será muito importante. As pessoas lembram que há quatro anos o Rio Grande do Norte figurava na imprensa nacional como o estado mais violento do país. Eu mesmo participei de cotinhas para a gente comprar cestas básicas para os policiais que ficaram aquartelados porque eles não recebiam salários. Sou filha de professora aposentada que passou aquele 2018 sem salário, sem o décimo terceiro, sem esperança. As pessoas assistiram às empresas irem embora do Rio Grande do Norte e todos sem acreditar mais que o estado pudesse andar para frente, embora a gente conheça as nossas potencialidades. A professora Fátima chegou para dar rumo ao estado. A governadora enfrentou as dificuldades com a pandemia, apesar do governo Bolsonaro. Veja que o estado tinha dois ministros do governo Bolsonaro que, ao invés de ajudar, muitas vezes procuraram atrapalhar. As pessoas fazem esse comparativo e agora que o Rio Grande está com norte, as pessoas querem avançar e sabem que a professora Fátima é uma boa condutora desse processo. Portanto, acreditamos que a memória vai fazer o eleitor comparar o que era o Rio Grande do Norte no governo passado e que é hoje.

Fonte: De Fato.com