Uma comunidade historicamente estigmatizada pode mudar sua imagem a partir de um olhar diferente. Esse é o registro que o fotógrafo Alex Régis faz desde 2014, e que ganhou mais um capítulo com o fotolivro “Passo da Pátria – Porto de Destinos”, que será lançado hoje, às 19h, no Bardallos Comida & Arte, Cidade Alta. A publicação encerra o projeto que começou com um documentário, seguido de uma exposição fotográfica. Assim como os trabalhos anteriores, o livro faz um registro humanizado do Passo, mostrando o cotidiano de seus moradores às margens do rio Potengi.

O livro traz 84 imagens feitas ao longo de sete anos, iniciando no período em que Alex e equipe estavam filmando o longa-metragem documental na comunidade. Segundo ele, 70% das imagens mostradas no livro foram feitas durante a gravação do filme. “Desde o início, nossa ideia era registrar o outro lado do Passo, aquele que não está nos programas policiais. A gente queria contar histórias de vida”, afirma ele, que dividiu a direção com o cineasta Paulo Dumaresq – autor do posfácio do fotolivro.

As histórias do Passo da Pátria são contadas sem texto, apenas com imagens. Alex optou por dividir as fotos em “blocos” ou capítulos, cada qual com um tema, como religiosidade, infância, trabalho, rio Potengi e, sim, a violência. “No livro, resolvi abordar essa parte que, infelizmente, também faz parte do cotidiano da comunidade, e eu não poderia fechar os olhos. Mesmo assim, é importante ressaltar que esse não é o foco do trabalho, é apenas um dos pontos abordados”, explica.

Pelas imagens de Alex passam pescadores tirando seu sustento do Potengi, crianças nadando no rio ou brincando nas ruas da comunidade, pessoas comuns na porta de casa ou passeando ao lado de muros e casas grafitadas, gente esperando o trem na estação (cujos trilhos passam ao lado da comunidade), altares, policiais, e vistas gerais do casario à beira do rio. Todas as fotografias são em preto e branco.

O Passo da Pátria nasceu espremido entre o Alecrim e a Ribeira, um pequeno mundo à parte, dentro do bairro da Cidade Alta. “Há um paredão que parece dividir o Passo do resto da sociedade natalense. Foi isso que a gente pretendeu atravessar com o projeto, mostrar que a comunidade não pode ser resumida a ‘lugar de bandido’, como muita gente pensa. A ideia é desmistificar isso”, diz.

O filme

“Passo da Pátria – Porto de Destinos”, o filme, foi lançado em 2016 e disponibilizado no Youtube em 2020. Foram três anos de imersão na comunidade, entre pesquisas e entrevistas. Alex Régis conhecia o Passo da Pátria apenas de suas matérias, em geral, pautas sobre violência e pobreza. Mas no meio da desolação, ele viu aquilo que pouco se mostrava: a humanidade do local.

O filme costura imagens do Passo, as declarações dos moradores (e ex-moradores), e uma pitada de encenação, com um ator interpretando a figura de Câmara Cascudo, citando textos próprios relativos à história do Passo da Pátria. A direção optou por uma fotografia limpa, sem muitos efeitos, e uma luz natural que passeia entre o rio e as ruas estreitas da comunidade. Em 2018, “Porto de Destinos” ganhou uma exposição na Capitania das Artes.

SERVIÇO

Fotolivro “Passo da Pátria – Porto de Destinos”, de Alex Régis. Quinta, às 19h, no Bardallos, Cidade Alta. Preço: R$45.

Fonte: Tribuna do Norte

Foto: Alex Régis