Na primeira reunião entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden como presidentes do Brasil e dos EUA, realizada na Casa Branca, em Washington, nesta sexta-feira 10, o petista convidou o líder americano para discutir um mecanismo de governança global que force os países a acatar decisões na área climática.

“É preciso que a gente estabeleça uma nova conversa para construir uma governança mundial mais forte”, afirmou o petista ao democrata. “A questão climática, se não tiver uma governança global forte e que tome decisões que todos os países sejam obrigados a cumprir, não vai dar certo”, acrescentou.

“Não sei qual é o fórum, não sei se na ONU, não sei se é no G20, não sei se é no G8, mas alguma coisa temos que fazer para obrigar os países, o nosso Congresso, os nossos empresários a acatar decisões que tomamos em nível global. Se não acontecer, nossa discussão na questão climática ficará prejudicada.”

A pauta ambiental tomou boa parte dos 13 minutos das declarações dadas por ambos os presidentes a jornalistas antes da conversa privada no Salão Oval. Biden, por sua vez, afirmou que vê o Brasil como “parceiro natural para enfrentar os desafios atuais, globais e especialmente a mudança climática”.

Sem citar Jair Bolsonaro, Lula disse que “nos últimos anos a Amazônia foi invadida por irracionalidade política e humana”. “Tivemos um presidente que mandava desmatar, mandava garimpeiros entrar em áreas indígenas, mandava garimpar nas florestas que demarcávamos como reserva na Amazônia.”

Além do ambiente, a defesa da democracia foi o principal tema das declarações. “Nossas duas nações são democracias fortes que foram duramente testadas e prevaleceram”, disse o presidente americano, referindo-se aos ataques de 6 de janeiro de 2021 em Washington e 8 de janeiro de 2023 em Brasília.

Lula então agradeceu o democrata pela “solidariedade no reconhecimento” da vitória do petista e pela defesa da democracia. “O senhor sabe que o Brasil ficou quatro anos se automarginalizando. Um presidente que não gostava de ter relações com nenhum país”, disse ele, ainda sem citar o nome de Bolsonaro, afirmando que o dia do ex-presidente “começava e terminava com fake news”.
Nesse momento, Biden brincou: “Soa famíliar”, para risadas do público presente.

Lula chegou à Casa Branca, às 17h50, no horário de Brasília, e cumprimentou Joe Biden com um aperto de mãos que simbolizou a reaproximação entre Brasil e EUA após dois anos de relações dormentes.

A primeira-dama Jill Biden tomaria um chá com Janja, mas a agenda foi cancelada porque a americana, segundo o governo americano, não estava se sentindo bem —ela fez um teste para Covid, e o resultado foi negativo. Janja então faria um tour pela Casa Branca enquanto os presidentes se reuniam. Dos jardins da Casa Branca era possível ouvir apoiadores do petista com caixa de som, megafone e gritos de “Lula”.

Brasil cede aos EUA e faz fala dura contra Rússia

O Brasil cedeu ao governo americano e fará uma condenação mais dura à Rússia devido à invasão da Ucrânia no comunicado conjunto dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden.

Antes, o texto não condenava diretamente a Rússia pela guerra, em razão da objeção dos negociadores brasileiros a uma linguagem mais específica sobre a agressão de Moscou. A declaração falava apenas sobre a cooperação entre Brasil e EUA em questões regionais e globais, como o conflito no Leste Europeu.

O governo brasileiro, porém, cedeu à pressão e aceitou uma declaração que condena nominalmente a Rússia pela violação territorial na Ucrânia, pelo desrespeito ao direito internacional, pelas mortes e pelos ataques à infraestrutura essencial do país e cita os efeitos do conflito sobre a economia mundial.

A linguagem é semelhante à adotada no comunicado conjunto de Lula com o premiê alemão, Olaf Scholz, em 30 de janeiro. O texto também falava em violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia, mas os negociadores brasileiros não queriam adotar essa linguagem tão específica para o comunicado com os americanos, porque uma declaração com os EUA nesses termos tem mais visibilidade.

O governo brasileiro teme que, ao assumir um lado de forma clara, a habilidade do país para agir como um “facilitador da paz” pudesse ser prejudicada.

Lula diz que não pedirá extradição de Bolsonaro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não pedirá ao líder americano, Joe Biden, a extradição de Jair Bolsonaro (PL), que está nos EUA, e que essa decisão depende da Justiça brasileira. A afirmação foi feita em entrevista à CNN Internacional nesta sexta-feira 10, em Washington, onde Lula se encontrou com Biden.

“Um dia ele terá que voltar ao Brasil e enfrentar os processos a que responde. Não vou falar com Biden sobre extradição do Bolsonaro, isso depende dos tribunais, e quero que ele seja considerado inocente até que seja provado o contrário, o que não aconteceu comigo. Só falo com Biden sobre isso se ele falar.”

O ex-presidente está na Flórida, para onde foi antes da cerimônia de posse de Lula. No dia 30, Bolsonaro pediu visto de turista para permanecer mais tempo nos EUA, já que a permissão diplomática iria expirar.

O petista também criticou o ex-mandatário brasileiro, a quem chamou de “cópia fiel” do ex-presidente americano Donald Trump, em resposta na qual afirmou ser natural a polarização política e na qual criticou a invasão do Capitólio promovida por apoiadores de Trump.

Fonte: AgoraRN

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