Com o mais recente reajuste do preço da gasolina, em vigor desde a terça-feira (26), natalenses já pagam quase 50% mais caro pelo combustível do que o valor médio de janeiro deste ano, a depender da região escolhida pelo consumidor para encher o tanque. Em diversos postos da zona Sul, o litro da gasolina está sendo vendido a R$ 7,290, um aumento de 48,17% em relação ao início do ano. Em janeiro deste ano o preço médio pesquisado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) era de R$ 4,924. O preço máximo pesquisado chegava a R$ 5,199.

A TRIBUNA DO NORTE percorreu alguns pontos de abastecimento na zona Sul e na zona Leste da capital nessa quarta-feira (28). A maioria dos postos visitados na zona Leste registrava preços que variavam de R$ 6,950 a R$ 7,090. Na zona Sul, em regiões como Candelária, Mirassol e Capim Macio, os preços se mantinham iguais e acima dos valores registrados em bairros como Alecrim e Tirol: R$ 7,290, o litro.

O reajuste, de 7% nas refinarias causou aborrecimentos nos consumidores mais uma vez. Motorista de aplicativo há quatro anos, José Mirabor Rocha, de 44 anos, afirma que a situação tem ficado cada vez mais complicada para trabalhar. “É um aumento abusivo demais. Trabalho como motorista de aplicativo e fica impossível de rodar com um reajuste desses. A cada dia a gente tem uma surpresa com um novo aumento”, reclama.

Sem outra fonte de renda para sobreviver, o motorista revela que segue na profissão, mas reconhece que está cada vez mais difícil se manter no ramo. “Não tenho como desistir desse trabalho, porque é a única opção que eu tenho de pagar as contas. Mas a situação está ficando insustentável. Vários colegas já desistiram de trabalhar na área”, revela Mirabor Rocha.

O empresário Enrico Fontes, de 25 anos, também reclama dos constantes aumentos. “Está tudo muito complicado. Eu uso bastante o carro, seja para trabalhar ou viajar. Então, posso dizer que a situação não está fácil. Ainda não me organizei para tentar reduzir o consumo de gasolina, talvez por isso, esses aumentos pesem ainda mais no meu bolso”, conta.

Bruna Silva, de 19 anos, é autônoma e usa o carro diariamente para trabalhar. Com as constantes altas, ela avalia a possibilidade de adotar novas formas de locomoção. “É um absurdo esse aumento. Não dá para continuar usando o carro desse jeito. Tenho pensado seriamente em andar de bicicleta. Isso porque eu já consegui reduzir bastante o uso do carro. De fato, não dá para seguir do jeito que está. Haja dinheiro para tantos custos”, desabafa.

Pesquisa
Na semana passada, antes mesmo do último reajuste anunciado pela Petrobras, Natal apresentava a gasolina mais cara de todo o País, de acordo com a pesquisa de preços da ANP. O levantamento, que é semanal, aponta que o preço médio do combustível na capital era de R$ 6,948, na semana de 17 a 23 de outubro.

Segundo o Procon Natal, que acompanha a variação de preços, não há registros de abusos. “Não recebemos nenhuma denúncia nem identificamos abusos. Nosso acompanhamento é feito com base nos valores ajustados pelo Governo Federal. Os aumentos vêm da política atual e não há muito que fazer”, explica Alessandro Márcio, do Núcleo de Pesquisa do Procon Natal.

“Ainda não temos dados atualizados desta semana. Nossos números são da pesquisa que fizemos antes desse último reajuste, que aponta um preço médio de R$ 6,950 na capital. Os valores que variam disso tinham uma diferença pequena, alguns para mais, outros para menos”, complementa Márcio.

Esta semana ainda, segundo ele, uma nova pesquisa será realizada. Sobre os preços mais elevados encontrados na zona Sul, Alessandro Márcio explica que a região, normalmente, apresenta valores superiores aos registrados em outras áreas da cidade.

“É uma região onde há um maior poder aquisitivo concentrado, por isso os preços são mais altos. Na zona Leste, em bairros como o Alecrim, a gente já costuma encontrar valores mais em conta. Mas, repito: não temos encontrado preços considerados excessivos. Com o recente aumento, só teremos condições de avaliar o cenário após uma nova pesquisa, que é quando teremos números atualizados em mãos para fazer um comparativo”, frisa.

RN não estuda redução de alíquota do ICMS
As altas constantes no preço dos combustíveis têm levado a discussões sobre o que é possível fazer para reduzir os impactos no bolso do consumidor. Dentre os pontos de debate, está a redução da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que no RN é de 29%.

O secretário-adjunto de Tributação Estadual, Álvaro Luiz Bezerra, afirma que não há possibilidade de redução da alíquota, uma vez que, na avaliação dele, essa não é a causa dos reajustes aplicados pela Petrobras. Ele destaca também que o percentual cobrado pelo ICMS para combustíveis no Estado é o mesmo desde 2016.

“Os aumentos sucessivos partem da Petrobras e isso se dá porque a política de preços dela é vinculada ao preço do barril do petróleo, que é dolarizado e vinculado ao preço de importação desse combustível, que também é em dólar. Com as instabilidades políticas que o País enfrenta, a moeda [o dólar] não para de subir. Aliás, não há muita perspectiva de mudança desse cenário”, esclarece o secretário adjunto.

“Não existe a possibilidade de estudar a redução da alíquota por parte do Governo do Estado”, complementou Bezerra em seguida. Seguida ele, a medida seria insuficiente para frear os aumentos. “Para um efeito visível, teríamos que fazer uma grande redução e ainda assim não temos como prever de que maneira funcionaria um beneficio desses. O que a gente percebe é que os reflexos para o consumidor seriam mínimos, porque a redução acaba indo para a margem de lucro do revendedor”, explica.

Questionado se o Governo do Estado pretende adotar alguma medida para reduzir os impactos junto ao consumidor, o secretário esclareceu: “Nós temos discutido sobre o que fazer, mas visualizamos que não somos a causa do problema. É algo que a gente não tem uma medida que possa impactar numa redução real. A situação envolve o cenário da macroeconomia e não de uma ação pontual”, sublinha.

“Preços não são tabelados”, diz Sindicato
Antônio Sales, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Rio Grande do Norte (Sindipostos/RN) evitou falar sobre os valores reajustados. “Qualquer decisão sobre preços está a cargo dos revendedores. O Sindicato não orienta os associados se deve ou não repassar preços ou quando deve ou não repassá-los”, disse.

Questionado se os preços na capital são “tabelados” e por que esse cenário supostamente ocorre, Sales negou qualquer possibilidade nesse sentido. “Os preços não são tabelados. Na verdade, os valores são livres, isso está na legislação. Portanto, existe uma liberdade de preços, ou seja, revendedor é livre para definir como quer repassar o produto ao consumidor. Isso é uma política de comercialização do próprio mercado”, descreve.

De acordo com o presidente do Sindipostos, em se tratando de commodities, como é o caso do petróleo, que serve de matéria-prima para a gasolina, existe um paralelismo de preços mundo inteiro. “O que geralmente acontece é: quando os revendedores colocam valores diferentes, aquele que colocou um preço menor acaba perdendo potencial competitivo. É importante destacar o paralelismo de preços existente em todo o mundo. E no nosso caso, isso é algo que não nos cabe definir junto aos nossos associados”, pontua Sales.

Segundo importadores, ainda há uma defasagem entre os valores cobrados pela estatal e os preços internacionais. A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) calcula uma diferença, na média dos portos nacionais, de 11% para a gasolina e de 13% para o óleo diesel. A tendência, segundo o mercado, é que as ofertas de petróleo e seus derivados, como a gasolina, continuem descoladas da demanda. Assim, com mais compradores do que vendedores e também com a moeda americana valorizada em relação ao real, a expectativa é de alta de preços nos postos.

Independentemente do fornecedor da gasolina e do diesel, eles continuarão sendo comercializados a valores equivalentes aos do mercado internacional e corrigidos em dólar. Essas são as variáveis utilizadas pela Petrobras e pelos importadores para definir os preços às distribuidoras, que, por sua vez, repassam as altas aos donos de postos de gasolina.

Fonte: Tribuna do Norte
Foto: Magnus Nascimento