Manuscrito com partitura e letra de canção em francês foi entregue pela família ao professor Durval Cesetti, da UFRN, que realiza trabalho de resgate de músicas nunca gravadas.

Autora de obras como Abaporu (1928) – pintura apontada como uma das principais referências do movimento modernista no Brasil – a artistas plástica Tarsila do Amaral também teve habilidades artísticas menos conhecidas, como a música.

Uma obra inédita composta por Tarsila e cedida pela família da artista foi gravada por professores da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal.

O trabalho de resgate começou durante uma visita aos familiares da pintora, feita pelo pianista e professor universitário Durval Cesetti, que realizava um trabalho de gravação de músicas da mãe de Tarsila, a pianista Lydia Dias de Aguiar do Amaral.

Os familiares apresentaram a ele uma canção em francês composta pela Tarsila, que sua sobrinha-neta, Maria Clara do Amaral, tinha achado recentemente entre os manuscritos guardados.

“Esta partitura, de uma canção intitulada Rondo d’Amour, estava com uma letra bem difícil de ler, diferentemente das peças de Lydia do Amaral, por exemplo. Por causa disso, supõe-se que provavelmente Tarsila não havia pensado em fazer essa partitura para outras pessoas interpretarem a canção, devendo ter sido uma composição que fez para si mesma, durante seus estudos musicais, e que depois foi guardada por sua mãe”, diz o professor.

Veja no link a gravação divulgada pela UFRN:
https://youtu.be/y_fc5i8MGFY

O contato do professor com a família de Tarsila do Amaral ocorreu por causa de uma parceria dele com o Instituto Piano Brasileiro (IPB), que realiza um trabalho de resgate e divulgação da cultura pianística nacional. Periodicamente, o Instituto envia manuscritos de músicas nunca publicadas ao professor para que ele possa realizar a primeira gravação das peças.

Em 2021, o IPB mandou diversas obras de Lydia do Amaral, mãe de Tarsila do Amaral, para Durval. Até então, só quem tinha conhecimento da existência das peças era a família e seus descendentes. Maria Clara do Amaral foi quem encontrou as composições e as enviou para o IPB. As gravações das obras de Lydia do Amaral foram publicadas na internet.

No fim de 2021, a família da artista entrou em contato com o professor da UFRN e o convidou para realizar um sarau em Mombuca, no interior de São Paulo, em homenagem a Guilherme do Amaral, neto de Lydia, que completava 91 anos. Durval aceitou.

Durante a visita, Maria Clara mostrou ao professor uma canção em francês assinada por Tarsila. O professor conta que, quando perguntou aos familiares, eles lhe disseram que era uma composição da própria Tarsila do Amaral. Ainda segundo eles, ela teria sido uma ótima pianista e chegou a cogitar a ideia de seguir carreira como musicista.

Após ter acesso à partitura, o professor realizou uma editoração profissional da canção. Por conta da difícil leitura do texto em francês, ele pediu o auxílio da amiga Catarina Brandão, diplomata da Embaixada do Brasil em Paris, na França.

“Além do valor histórico de acharmos uma composição de uma das nossas maiores artistas plásticas, eu fiquei imediatamente impressionado ao perceber que parecia ser uma obra muito bem-feita, algo que se confirmou após termos feito a sua gravação”, conta Durval.

Após terminar de realizar a editoração, a partitura foi publicada no site da Escola de Música da UFRN e Durval convidou os professores Elke Riedel e Kaio Morais para, juntos, realizarem as primeiras gravações da canção.

As gravações aconteceram no dia 25 de janeiro deste ano no auditório Onofre Lopes da Escola de Música.

Fonte: G1RN
Foto: Divulgação