O cantor, compositor e escritor Chico Buarque aterrissa em Natal neste fim de semana para uma temporada de dois shows da sua nova turnê “Que tal um samba?”, sexta e sábado (9 e 10), às 21h, no Teatro Riachuelo. Ao seu lado estará a cantora paulistana Mônica Salmaso, especialmente convidada para balancear os batuques e as melodias de uma das obras mais sólidas e cultuadas da MPB. Natal será a segunda cidade na rota da tour nacional.

O roteiro do novo show promove um passeio pela obra de Chico Buarque através das décadas. Reúne composições há muito não presentes em suas turnês, e outras mais recentes, tudo alinhado por afinidades temáticas ou musicais. Acompanhando o cantor, só velhos companheiros de palco, um reencontro sonoro composto pelo maestro Luiz Claudio Ramos (arranjos, guitarra e violão), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (baixo acústico e elétrico), Marcelo Bernardes (sopros) e Jurim Moreira (bateria).

Mônica Salmaso participa dos shows em números solo ou em dueto com Chico Buarque. A cantora, que já lançou um disco dedicado a Chico e tem 27 anos de palco, confessou em entrevista à TRIBUNA DO NORTE que ficou tímida durante os primeiros ensaios com o ídolo. “Fomos dia a dia encontrando olhares, brincadeiras e confiança”, diz. Nesse bate-papo, Mônica conta sobre sua presença na turnê, a dinâmica no palco, repertório, e a admiração por Chico. Confira: 

Como surgiu a ideia de sua participação em “Que tal um samba”?

Eu imagino que este convite partiu do vídeo que fizemos juntos na série “Ô de casas”. A presença do Chico ali foi uma comoção geral. Foram vídeos musicais de afeto, feitos e vividos em um momento de grande agonia, de solidão, de desassistência. Chico ter topado fazer causou em mim e em quem acompanhava a série um tsunami amoroso. Acho que essas coisas vividas ali fizeram brotar o convite que eu nunca imaginei acontecer, nem em sonho. Passado o susto do convite, eu venho aos poucos entendendo que minha estrada musical desaguou nele e que, ainda que isso fosse improvável, estar com o Chico tem um lado natural e de merecimento. Aos 51 anos e 27 de carreira cantando a música brasileira, eu recebo este convite de um dos meus maiores heróis com toda a minha gratidão.

Você influenciou de alguma forma no repertório do show, deu sugestões, dicas?

Eu tive total liberdade de escolha do que gostaria de fazer nos meus momentos de solo e, obviamente, dividi minhas ideias com o Chico até encontrar uma narrativa e um caminho de abertura. Tínhamos conversado sobre vários duetos possíveis. O desenho do repertório a partir da entrada dele foi definido pelo Chico sabiamente. Nada está ali por acaso e eu sinto que a densidade do repertório é ainda mais forte e necessária depois de tudo o que vivemos no Brasil nos últimos anos. Estamos à flor da pele e emocionalmente necessitados desta música, de ver o Chico no palco e nos curar um pouco de tantos males.

Como é a dinâmica entre vocês no palco?

Eu estava tímida no início dos ensaios. Fomos dia a dia encontrando olhares, brincadeiras e confiança. Após cinco semanas, no ensaio geral, no palco com luz, figurino e cenário, percebi o quanto foi importante esse número de ensaios. Tudo colabora pra diminuir a tensão e fazer com que a gente se emocione e se divirta, mesmo com essa tamanha responsabilidade.

O álbum “Noites de gala, samba na rua”, que agora já tem 15 anos, foi uma forma sua de resgatar a alma sambista de Chico?

Este trabalho foi minha homenagem ao Chico. A obra dele fez parte, mais do que da minha formação musical, da minha formação emocional. Eu sabia que faria em algum momento um trabalho dedicado a ele. Quando veio o também inesperado convite dele para eu gravar a música “Imagina” (dele com Tom Jobim) eu entendi que era a hora de fazer o projeto como forma de agradece-lo. Apesar do nome, o repertório do projeto abrange vários estilos musicais, além do samba que é um estilo importante e forte na obra do Chico.

Em 1995 você despontou com um disco de afro-sambas. O quanto o samba é importante em sua obra?

Afro Sambas foi o nome que Vinícius de Moraes e Baden Powell deram a um grupo de canções que fizeram juntos e que tinham elementos fortes da cultura africana, sejam musicais (melodias, ritmos), sejam poéticos com letras baseadas nas religiões de matriz africana. Meu trabalho de estreia em 1995 foi o resgate deste projeto. Uma forma de iniciar a carreira através de um lindo projeto que estava de certa forma esquecido. Foi uma honra e um enorme presente para mim. Amo o samba em todas as suas vertentes. Assim como amo o baião, a toada, o xote, o repente, enfim, a música popular brasileira em todas as suas manifestações.

Serviço:

O que: “Que tal um samba?”, de Chico Buarque, com Mônica Salmaso

Quando: Sexta e sábado, às 21h

Onde: Teatro Riachuelo

Ingressos a partir de R$ 140, na bilheteria ou site Uhuu.com

Fonte: Tribuna do Norte

Foto: Divulgação