O Rio Grande do Norte conta atualmente com 148 escolas que ofertam ensino em tempo integral e atendem a 17.991 estudantes, o equivalente a 25,2% de todas as 856 unidades da rede estadual de ensino. Com a sanção da lei federal que institui o programa Escola em Tempo Integral (ETI) na semana passada, a meta da Secretaria Estadual de Educação (SEEC) é que o número de unidades com essa modalidade chegue a 328, ou, 55,9% da quantidade total de escolas da rede em 2026. Segundo a pasta, a meta do Governo do Estado é a mesma do ETI, de expandir em 50% a oferta desse tipo de ensino.

A Secretaria informou que o plano de expansão da SEEC prevê a adesão de 60 escolas por ano, a partir de 2024, à modalidade. Com isso, a meta será atingida em 2026, quando o número de unidades chegará a quase 330 (para cumprir a meta do ETI é necessário a adesão de 293 escolas). “Dentro de sua competência, o Governo do Estado trabalhará, junto ao Governo Federal, para que mais 60 escolas – essa oferta pode ser até maior – passem a ofertar a referida modalidade de ensino por ano. Essa meta pode variar de acordo com a realidade local das instituições de ensino”, informou a Secretaria em nota.

Segundo a pasta, a quantidade de escolas que adotou o modelo vem crescendo desde 2018, quando a rede contava com 48 unidades de tempo integral. “Apenas em 2021 não houve expansão, em razão da pandemia. É importante lembrar que a oferta desse tipo de ensino depende da demanda, que varia a cada ano. E, ofertar essas escolas passa por todo um trajeto, que inclui conversas com a comunidade escolar, identificação de localidades e definição de vagas”, explicou a SEEC.

A Secretaria informou que a projeção de estudantes a serem beneficiados pelo ETI ainda está sendo trabalhada pelo Ministério da Educação, mas há uma estimativa, da própria pasta, de que, com a ampliação, 10 mil estudantes passem a ter acesso ao modelo nos dois primeiros anos de execução do programa. Sobre os investimentos a serem aplicados para que novas escolas adotem o ensino em tempo integral, a pasta esclareceu que “aguarda as orientações técnicas do MEC, órgão responsável pela liberação dos recursos para a manutenção e adaptações necessárias” nas unidades de ensino.

A reportagem também procurou a Secretaria de Educação de Natal (SME/Natal) para saber como está o cenário na capital. A pasta informou que apenas uma escola da rede municipal de ensino, a Professora Tereza Satsuqui Aoqui de Carvalho, no Planalto, zona Oeste da cidade, funciona atualmente com ensino em tempo integral. A unidade atende 315 estudantes do 1° ao 5° ano do ensino fundamental. 

Além disso, a Prefeitura deu início à construção do Complexo Educacional Padre Tiago Theisen, na Redinha, zona Norte da capital. A escola de tempo integral atenderá do ensino infantil, contemplando a fase pré-escolar, ao ensino fundamental. As obras começaram em 2023 e devem ter a primeira etapa finalizada neste mês. A estrutura vai contar com uma biblioteca, berçário e complexo de esportes, em uma área em torno de 12 mil metros quadrados.

Segundo a SME, a intenção é expandir o número de escolas do tipo na rede, mas a Secretaria vai aguardar o MEC para obter informações sobre as diretrizes do programa. “O que temos até o momento são as informações divulgadas na imprensa”, explicou a Secretaria. 

Estudantes apoiam o modelo

Para os estudantes Bianka Lima, de 16 anos e Gleydson Gomes, de 17, o modelo de ensino em tempo integral é bem-vindo e tem estimulado o aprendizado em sala de aula. Os dois são alunos do 2º ano da Escola Estadual Winston Churchill, na Cidade Alta, em Natal. A avaliação de ambos é que a modalidade é preferível ao modo tradicional. A escola em questão é uma das 148 unidades que aderiram a esse tipo de ensino.

“Vim de outra escola e meu aprendizado era bem ruim, porque faltava professor e, como eu tenho muita dificuldade em exatas, foi bastante complicado, mas agora, ainda que minha dificuldade continue, tenho avançado bastante”, afirmou Bianka. “O modelo é bem cansativo, mas é bom. A gente tem três intervalos, um de uma hora e meia, para almoço, e mais dois outros de meia hora cada. Então, a gente consegue descansar bem. Se eu tivesse que escolher, eu escolheria o integral, como é adotado aqui na escola”, descreve Gleydson, colega de Bianka. 

De acordo com Fernando Francelino, diretor da escola, a adesão ao ensino médio de tempo integral ocorreu em 2017. Na unidade, são oferecidas duas bases de conteúdo: a Nacional Comum Curricular (BNCC), que permeia todos os modelos de escola e a e a Base Diversificada, que contempla cerca de 12 disciplinas, as quais funcionam como suporte psicopedagógico e apoio para as perspectivas sociais do estudante. “São disciplinas como projeto de vida, estudo orientado, dentre outras que são pensadas no campo do apoio pedagógico”, disse Francelino.

Ele frisou que a escola recebe investimentos na infraestrutura, com salas de informática e laboratórios de química, física e biologia. “Nesse caso, a gente recebe a indumentária específica, microscópio, maquetes, modelo de corpo humano, reagentes e mais alguns recursos necessários. As escolas de tempo integral costumam receber esse tipo de material de forma mais significativa dos que as escolas de ensino regular”, explicou o diretor.

Ele explica que são oferecidos aos estudantes três refeições diárias: café da manhã, almoço e lanche da tarde, todos com acompanhamento nutricional. Um dos gargalos para o modelo, conforme aponta o diretor, é que a grande maioria das escolas de ensino fundamental ainda não oferece ensino de tempo integral, o que dificulta a adaptação dos alunos ao modelo novo. “O jovem vem de uma lógica de nove anos de ensino regular e se pega, nos últimos três anos da Educação Básica, em um formato totalmente diferente. É um baque. O primeiro ano do ensino médio é uma prova de fogo”, avalia.

Fernando Francelino detalha que alguns não se adaptam às nove horas diárias de aula e acabam convencendo os pais a mudarem de escola. Outro problema, segundo ele, são as questões econômico-sociais. “Há aqueles que precisam trabalhar para ajudar em casa e têm que ir para o modelo regular”, aponta. Esta é a razão pela qual Augusto César Fonseca, vice-diretor da Escola Estadual Professor Anísio Teixeira, em Petrópolis, na zona Leste de Natal, afirma que a unidade não aderiu ao formato.

“Nosso público de estudantes é da Grande Natal e muitos deles têm estágio ou já trabalham, sem falar naqueles que precisar ajudar nas tarefas de casa no contra turno. Por isso, não aderimos. E, por enquanto, a gente mantém da mesma forma, porque há uma possibilidade de esses alunos não adotarem o modelo. Além do que, a gente precisaria de uma nova infraestrutura e de novos equipamentos”, sublinha o vice-diretor. A Anísio tem cerca de 1 mil alunos do ensino médio (regular e EJA) matriculados.

De acordo com os dados da primeira etapa do Censo Escolar 2022, divulgados em fevereiro pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 166 escolas da rede pública (estadual e municipal) do RN oferecem ensino em tempo integral. Isso representa, em relação ao total das escolas públicas do Estado, 6,1%. Essas instituições realizaram 35.811 mil matrículas (6,2% do total). A proporção de alunos em tempo integral é de 7,3% no ensino fundamental e de 14% no ensino médio, conforme os dados.

Fonte: Tribuna do Norte

Foto: Magnus Nascimento